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Sinal dos tempos...será?
Há duas semanas um grupo de presos da Penitenciária Central de Cuiabá financiou a explosão da parede externa do prédio, provavelmente subornou pessoal interno, passou por quatro guaritas que deveriam estar fechadas, e fugiu na madrugada. Certamente alguém diria que foi uma fatalidade. Não é fatalidade, quando se observa o conjunto da violência e a vulnerabilidade do sistema penitenciário. Parece-me que nisso tudo, a única coisa consistente é a polícia nas ruas prendendo bandidos para a justiça soltar e pras penitenciárias que pioram gente contraventora.
Dia desses chegou-me às mãos uma provável entrevista de Marcola, preso em São Paulo e considerado o líder do PCC. O PCC, o Primeiro Comando da Capital, é uma organização criminosa paulistana, criada com o objetivo manifesto de defender os direitos de pessoas encarceradas no país, surgido no início da década de 1990 no Centro de Reabilitação Penitenciária de Taubaté, local que acolhia prisioneiros transferidos por serem considerados de alta periculosidade pelas autoridades.
A suposta entrevista com Marcola, ao jornal carioca O Globo, real ou não, é uma profecia ao terror social. Tomo a liberdade de reproduzir alguns trechos, associando-as à fuga na Penitenciária Pascoal Ramos de Cuiabá. Ele diz: “Eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível. Vocês nunca me olharam durante décadas. E antigamente era mole resolver o problema da miséria. O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias... A solução que nunca vinha... Que fizeram? Nada. Sou culto. Leio Dante na prisão...”
Noutro trecho, ele diz sobre o medo de morrer: “Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar… mas eu posso mandar matar vocês lá for. Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba. Estamos no centro do Insolúvel, mesmo. Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração. A morte para nós é o presunto diário, desovado numa va… Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em “seja marginal, seja herói”? Pois é: chegamos, somos nós!”
Sobre o poder do PCC, ele realmente é profético e aterrorizante, numa razão indiscutível: “ Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório. Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. (...)Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência”.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@terra.com.br
Dia desses chegou-me às mãos uma provável entrevista de Marcola, preso em São Paulo e considerado o líder do PCC. O PCC, o Primeiro Comando da Capital, é uma organização criminosa paulistana, criada com o objetivo manifesto de defender os direitos de pessoas encarceradas no país, surgido no início da década de 1990 no Centro de Reabilitação Penitenciária de Taubaté, local que acolhia prisioneiros transferidos por serem considerados de alta periculosidade pelas autoridades.
A suposta entrevista com Marcola, ao jornal carioca O Globo, real ou não, é uma profecia ao terror social. Tomo a liberdade de reproduzir alguns trechos, associando-as à fuga na Penitenciária Pascoal Ramos de Cuiabá. Ele diz: “Eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível. Vocês nunca me olharam durante décadas. E antigamente era mole resolver o problema da miséria. O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias... A solução que nunca vinha... Que fizeram? Nada. Sou culto. Leio Dante na prisão...”
Noutro trecho, ele diz sobre o medo de morrer: “Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar… mas eu posso mandar matar vocês lá for. Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba. Estamos no centro do Insolúvel, mesmo. Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração. A morte para nós é o presunto diário, desovado numa va… Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em “seja marginal, seja herói”? Pois é: chegamos, somos nós!”
Sobre o poder do PCC, ele realmente é profético e aterrorizante, numa razão indiscutível: “ Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório. Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. (...)Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência”.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@terra.com.br
URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/83/visualizar/
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