Por que tenta demora?
Parece que o Rio de Janeiro recuperou uma parte de seu território que legalmente sempre foi seu. Difícil de entender, não? Quem acompanhou as reportagens das nossas TVs, por ocasião da "recuperação" do complexo da favela do Alemão, viu uma ação exemplar das policias militar, civil e das Forças Armadas.
Foi, realmente, fantástica a ação desses homens. "Devolveram" à população o que jamais deveria ser tirado dela. "Devolver" também difícil de entender!
Assisto em um desses canais de TV, uma entrevista com o secretário de Segurança do Rio de Janeiro. Torcia eu de maneira insôfrega que o repórter fizesse apenas uma pergunta ao secretário. Esta: "Por que, sSecretário, isto não foi realizado há alguns anos atrás"?
Não é que minutos depois essa pergunta foi feita! A resposta do secretário: "Para realizar essa operação, teria eu que formar no mínimo, três mil militares".
Ah, secretário, considero-lhe muito competente, muito dedicado, mas confesso-lhe que fiquei decepcionado com sua resposta. Compreendo que foi oportuna para o cargo que ocupa, mas deveria ser outra, pois ao que me consta não houve nenhuma formatura de três mil policiais para que essa operação fosse realizada.
Mesmo se houvesse a formatura desses três mil policiais, duvido que a Secretaria de Segurança teria coragem de enviar esses inexperientes novos policiais para uma operação deste tamanho e nesse local.
No JN, o senhor disse: "Impunham uma ditadura de silêncio para mais de 350 mil pessoas". Imagine essas 350 mil pessoas vivendo esse calvário por mais de duas décadas e os governadores recusando a ajuda federal.
A verdade Secretário, foi que o seu governador resolveu o problema através de uma só palavra: HUMILDADE, o que faltou a muitos que o sucederam!
Lembro-me que, desde quando esses facínoras começaram a azucrinar a vida do carioca, todos os presidentes da República, sem exceção, ofereceram ajuda das Forças Armadas para acabar com essa farra. Lembro-me também que todos os governos aos quais foram oferecidas as tropas federais sempre respondiam que não havia necessidade. O povo morria e a vaidade de querer resolver o caso sozinho para entrar na história, era muito mais importante.
Sabiam os governantes que não tinham condições de subir o Alemão e que jamais haveria sucesso sem a ajuda das Forças Armadas. Tinham certeza que seria uma guerra e nunca ousariam enfrentá-la. A geografia do local permitia um melhor desempenho dos bandidos. Não precisa ser um especialista da área para chegar a essa conclusão.
Que recuperação que nada! Que devolução que nada! Sempre pertenceu ao povo ordeiro e trabalhador, sempre pertenceu à família carioca e aos seus filhos, onde só tem esse lugar para morar, o Conjunto do Alemão.
As autoridades, ao longo desses infindáveis anos, recusando-se a receber ajuda de quem poderia e tinha poder bélico para resolver esse caos, entregaram de mão beijada essa parte da cidade a esses canalhas. Fingiam que estava tudo bem.
Não pensem que se desta vez recusassem novamente a ajuda federal, teria sucesso essa operação.
Portanto, senhor governador do Rio de Janeiro, na minha ótica, sua sensatez e humildade em aceitar a ajuda das tropas do Exercito, da Marinha e da Aeronáutica, foi decisiva na "libertação" desse povo que vem de uma opressão de décadas.
Não foi a formação de mais três mil policiais, não foram as armas novas adquiridas pelo seu governo, que decidiram essa batalha. Duvido que sem os blindados na frente da tropa, esses homens desceriam vivos do morro.
Caldo de galinha e humildade não fazem mal a ninguém. Que o exemplo do governador Sérgio Cabral sirva de lição a outros governantes que sonham entrar para a história sozinho.
EDUARDO PÓVOAS é cidadão cuiabano.
povoas@terra.com.br
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