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Opinião
Segunda - 06 de Dezembro de 2010 às 02:23
Por: Lourembergue Alves

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A pesquisa é reveladora. Porém, o seu resultado não deixa de ser decepcionante. Afinal, “pouco mais de um mês do primeiro turno das eleições gerais deste ano, 23% dos eleitores já não lembram mais em qual candidato a deputado estadual votaram”; enquanto os que brigaram pelos cargos de deputado federal e senador, que “fugiram da memória de 21,7% e 20,6% das pessoas entrevistadas, respectivamente”. Embora se saiba de que nada existe de novidade no tal resultado. Pois, há muito, já se tem notícia de que a maioria dos votantes não se lembra em quem escolheu para ocupar as cadeiras das Casas Legislativas. Isso, por outro lado, não significa que se deva ignorar a dita pesquisa. Até porque a sua divulgação pode, no mínimo, provocar a discussão a respeito. 
 
Debate necessário. Principalmente para um Estado e seu povo que queiram continuar nos trilhos da democracia. Esta, diferentemente de todos os outros regimes, requer a participação de todos. Participação que vai além do ato de votar, e, mais ainda, da memorização dos nomes dos parlamentares. 

Aliás, memorizar não é o mesmo que conjugar o verbo norteador da vida democrática. Pois o participar – ao contrário da simples decoreba - engloba a ação e o discurso, que se dão no espaço público, e este é criado mediante o trabalho diuturno de todos. 

Percebe-se, portanto, que o termo todos não se restringe a meia dúzia de pessoas, muito menos se refere tão somente a uma elite. Mas ao conjunto dos cidadãos. São estes que devem estar atentos aos passos dos agentes públicos, sem, contudo, perderem a condição que lhes é inerente. Pois o cobrar e o fiscalizar são ações que devem ocorrer ao mesmo tempo, além de exigirem sobre a quem recaem os olhos fiscalizadores do cidadão. 
 
Importa-se, então, ter ciência das composições dos Parlamentos. Até mesmo para avaliá-los melhor. Tarefa que tem como pré-requisito o não esquecimento dos nomes dos políticos contemplados nas urnas. Ainda que os escolhidos não tenham sidos eleitos. Afinal, os eleitos não representam apenas quem lhes deu apoio e/ou acionou seus números nas teclas da urna eletrônica. 

De todo modo, é extremamente decepcionante deparar com a notícia de que grande número dos eleitores não se lembra mais em quais candidatos a deputado estadual, deputado federal e senador votou. 

É claro que tal situação resulta-se de uma série de fatores, entre os quais o de ver a si próprio (no caso do eleitor) alijado do processo político e o envolvimento de agentes públicos em falcatruas. 

A apatia popular, entretanto, favorece sobremaneira aos demagogos e aos descompromissados com a “res publica”, com as coisas da sociedade e, enfim, com os negócios da política, que estão diretamente ligadas ao cotidiano da população, chegando a mexer no bolso e na vida do contribuinte.  
 
Por isso, a apatia já deveria estar expurgada. Expulsão que se inicia, também, pelo lembrar os nomes dos candidatos escolhidos, bem como ao ingresso efetivo no campo político, desacompanhado do esquecimento e da desatenção às coisas públicas. Afinal, bem público se associa a participação, e esta, por outro lado, ao estar atento a tudo, inclusive quando se tem ao poder da memória.   

  
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br


Autor

Lourembergue Alves

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista

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