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Opinião
Terça - 23 de Novembro de 2010 às 09:27
Por: Alexandre Garcia

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A enfermeira do Hospital de Base de Brasília, Joana Fernandes, descobriu há dois meses que tem o mesmo câncer da presidente eleita. No mesmo dia em que Dilma fazia uma revisão clínica no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, Joana se desesperava porque a farmácia pública não tinha o rituximab, que faz parte da quimioterapia, para controlar o linfoma e os médicos diziam que a falta do medicamento poder causar uma progressão da doença. "O meu tipo de câncer é o mesmo que o da Dilma. Ela está muito bem porque tem um tratamento de primeira qualidade. Eu, que sou uma trabalhadora da saúde, não tenho nenhum tratamento", disse ela na Globo de Brasília.

As autoridades não devem ficar sujeitas ao tratamento de Joana; Joana é que tem direito ao tratamento destinado às autoridades. É preciso nivelar a saúde por cima. O tratamento que o Sírio Libanês proporciona ao vice-presidente José Alencar tem que ser de igual qualidade para todos os brasileiros que precisarem de hospitais públicos. Afinal, a Constituição estabelece que a saúde é um direito de todos - e um dever do estado.

Nos hospitais públicos e postos de saúde, com raras exceções, o que se vê é a falta de meios para tratar quem precisa. Faltam exames de laboratório - não há reagentes, aparelhos estão enguiçados, ou falta até o papel para imprimir o exame. Faltam insumos mais primários para os médicos: luvas, gaze, sondas. Próteses custam caríssimo e enferrujam dentro do paciente. Hospitais têm goteiras, bactérias, fungos, vazamentos de esgoto, promiscuidade. Médicos e enfermeiras se desdobram, mas são insuficientes.

A prevenção tem sido um desastre, como mostra o crescimento de 90% de casos de dengue em um ano. Doenças antigas e tratáveis, como tuberculose, mal de Chagas, malária, continuam a tirar tempo de vida dos brasileiros. Falta de saneamento, falta de educação com noções básicas de higiene, ainda são portas abertas para a doença. Num mundo que se revitaliza no combate às doenças, na saúde pública, aqui no Brasil é tudo discurso, projeto e pouco resultado.


Alexandre Garcia
é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras. E-mail: alexgar@terra.com.br



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