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Opinião
Sexta - 05 de Novembro de 2010 às 00:37
Por: Petrônio Souza Gonçalves

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Enquanto o mundo todo se volta para a preservação da água e começa a discutir o futuro do planeta dentro de uma visão sustentável da existência humana na terra, o Brasil e Minas Gerais parecem ignorar essa tendência, acreditando ser possível a vida sem água. Chega a ser constrangedor analisar o fato de que estamos trocando a criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela - com suas mil nascentes identificadas, que abastecem cerca de 45% da Região Metropolitana de Belo Horizonte e de 60% da capital – pela implantação do Projeto Apolo, que pretende minerar na área delimitada pelo parque.

Hoje, a Serra do Gandarela é responsável diretamente pela vida de aproximadamente 2 milhões de pessoas, que recebem água tratada em casa, além de ter direito ao saneamento básico. Ainda assim, querem tirar do povo mineiro mais esse direito. Há uma inversão de valores histórico e cultural nesta questão, pois o quadrilátero não é ferrífero, mas sim, aqüífero, pois o bem mais preciso para nós não é o minério, mas a água, e onde tem minério, tem água.

Uma tonelada de minério de ferro vale hoje R$ 250 no mercado internacional, enquanto que um litro de água mineral vale R$ 1,5 no mercado interno. Mil litros de água mineral valem então R$ 1.500,00, ou seja, 6 vezes mais que uma tonelada de minério, isso sem levar em consideração que a água é um bem natural renovável, ou seja, uma fonte que não seca. No entanto, querem, da forma mais tosca possível, matar a ‘galinha dos ovos de ouro’, para não ter direito ao tesouro que ela traz dentro de si. Isso se limitarmos ao questionamento de valores, sem, contudo, avaliarmos a vida presente e futura, que tem valor incalculável. 

A criação do Parque Nacional do Gandarela, que abrange uma área em 8 municípios, bem no coração de Minas Gerais, o torna um bem de todos os brasileiros, de todo aquele que quer conhecer as suas belezas, andar por suas trilhas, estudar as suas espécies, pesquisar a sua fauna e flora. Assegura que daqui a centenas de anos, aquele pedaço privilegiado de terra estará preservado, com suas nascentes intactas, seus pássaros voando livremente pelo céu do Brasil, seus lobos-guarás procriando e a vida se multiplicando na terra.

A implantação do Projeto Apolo, com a atividade minerária, privatiza a área que deveria ser de todos, levantando cercas, desmatando árvores, destruindo tudo que está a sua volta. Onde rolava uma cachoeira, passará a escorre uma água negra, e no rio de águas cristalinas em que havia peixes, terá apenas esgoto.

A criação do Parque Nacional do Gandarela possibilitará o turismo, que é a indústria limpa, com investimentos pequenos e uma vastíssima e integradora cadeia produtiva, fazendo a riqueza de muitos. A implantação do Projeto Apolo destruirá e poluirá o meio ambiente, trará problemas sociais para as populações que estão ao seu entorno, com aumento da criminalidade, do tráfico de drogas, e uma profunda mudança no comportamento e na vida das pequenas e modestas localidades. Fará apenas a riqueza de poucos, de muito poucos. Não podemos trocar a flora única existente na Serra do Gandarela, com sua fauna, seus rios, vales e cachoeiras, por um buraco que será deixado pela mineração.

A escolha entre a criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela e da implantação do Projeto Apolo é emblemática para nós mineiros neste momento. É o sinal claro de qual modelo e valores de vida que adotaremos em tempos de mudanças de conceitos e atitudes mundo afora. Apontará qual a visão de mundo e sociedade que vamos ter daqui pra frente. Será que vamos optar por ganhar menos agora ou ganhar mais sempre, continuamente!


Petrônio Souza Gonçalves
é jornalista e escritor
www.petroniosouzagoncalves.blogspot.com



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