Repórter News - reporternews.com.br
Opinião
Quinta - 16 de Agosto de 2012 às 19:49
Por: Domingos Sávio Bruno

    Imprimir


Veja bem, era véspera dos dias dos pais, o dia estava ensolarado, saímos rumo à cidade de Nortelândia para comemorar o domingo dos pais com uma pessoa muito especial para nós. A viagem estava bastante tranqüila, velocidade moderada, apreciávamos a paisagem. Ora, se não fosse assim, nem dá para imaginar! Ao passarmos a primeira entrada da cidade de Diamantino na Rodovia MT 240, logo abaixo, bem próximo ao seu segundo acesso naquele sentido, uma surpresa: fogo! Queimada ou Incêndio? Bem. Queima descontrolada é o que estava muito evidente!Bem, se chamam isso de queima controlada, cometem erro certamente. Neste caso, não parecia nada disso. Pois quase nos vitimou pela ação das chamas, pela falta de visibilidade no local, que tornou o ambiente propício a acidentes com possibilidades de choques frontais de veículos ou mesmo por capotamentos.

Nossa visão de repente era fogaréu de ambos os lados. E não havia sinais de fumaça em nossa direção, que pudessem pré-anunciar o perigo. De imediato só se via fogo. Muito fogo mesmo. E para piorar o vento parece que mudava de direção muito rapidamente, e alternava o lado. Uma vez o fogo vinha de um lado e cruzava meia pista, e ia do outro lado tomando a pista toda. E agora? A faixa de fogo era longa, mas nem sabíamos o quanto. E a reação teve que ser imediata! Coisa de segundos. Seguir em frente era a alternativa. Não havia meio de parar ou manobrar e voltar, o calor era muito alto e veículos poderiam até chocar na traseira do nosso. Pensamentos como relâmpagos passaram e decisão tomada de pronto.

Ora, na velocidade em que vínhamos e com caminhões distantes logo atrás... Foi a nossa sorte, pois se estivessem mais próximos estaríamos todos queimados certamente naquele instante e local. Pois tivemos que reduzir bruscamente a velocidade, quase parando o nosso veículo. Deu tempo exato para analisar a pista e seguir por onde o fogo estaria menor. Deu para escolher no tempo certo, em fração de segundos, passar pela contra mão, torcendo para não vir nenhuma condução no sentido contrário, pois naquela hora havia um pouco de fumaça e muitas chamas vivas sopradas para o mesmo sentido em que fomos. Dificultado assim bastante a visibilidade.

Ufa! Passamos! Mas, deu para sentir o calorão do fogo em nossas faces, mesmo com o ar condicionado que estava até trincando de gelado dentro do nosso veículo. Passamos sufoco. Muita adrenalina naquela hora. Mas deu tudo certo! Sorte? Certamente a mão de Deus é que nos protegeu naquela hora.

Mas vejam bem, logo em seguida, no sentido contrário ao nosso vieram logo três motoqueiros com caronas em cada uma delas. Assim, fomos dando vários sinais de luz e sinalizando com as mãos para que reduzissem as suas velocidades.

Ora, aquilo era queima controlada? Seria autorizada pela SEMA? Não dava sinais disso nunca! Mas seria esse fogo provocado? Seria incêndio? Não temos como afirmar nada. Tivemos até vontade de parar e registrar uma ocorrência na delegacia da cidade. Nosso erro: não foi feito. Decidimos continuar a viagem em paz. Felizmente não houve nenhuma notificação de sinistros naquele dia, naquele local.

Bem, conforme os 10 mandamentos da Queima controlada, elaborado pela SEMA, “A queima controlada é definida como a aplicação controlada do fogo em combustíveis tanto no estado natural como alterado, sob determinadas condições de clima, umidade do combustível, umidade do solo”, seguindo alguns critérios que acompanham a referida autorização para a queima controlada, como orientações técnicas.

Pois bem, o que aconteceu certamente contraria os mandamentos preconizados pela SEMA. Pois, isso não estaria correto dizer que ao longo de uma Rodovia como aquela (MT 240), fosse autorizada uma queima controlada. Ora, não foram nem obedecidos pelo menos seis, dos dez itens recomendados. Onde não foi visto nas proximidades nenhum equipamento para procedimentos de emergências. Parece que o reconhecimento necessário na área, não foi observado, já que foi incendiado faixa ao longo da rodovia, até beirando a pista, representando riscos a transeuntes. Não havia sinais aparente de ter sido feito o devido ENLEIRAMENTO (leiras) prévio dos resíduos, para “isolar” o local a ser queimado da área de rolamento da pista da rodovia. Próximo a pista havia muita massa combustível. Não foi visto no local, pessoal supostamente com devido treinamento para orientar os transeuntes da rodovia sobre o risco de vida, e que poderiam desviar por dentro da cidade de Diamantino para evitar contratempos. O horário da ocorrência desse fato, não era o mais indicado, pois já havia passado do meio dia, onde a temperatura era muito elevada, e a umidade baixíssima, e o fogo consumindo massa vegetal abundante. Não havia sinais de acompanhamento desse procedimento de alto risco. E, daí, a conclusão de que não se tratava de uma queima controlada. Era um acidente? Não tem como afirmar.

A queima é um procedimento de limpeza de área rural de baixo custo, e que auxilia muito nos procedimentos de renovação de pastagem e manutenção da área aberta, em áreas já consolidadas de uso e servidão humana. É passível de requerimento junto a SEMA. Mas que sem o devido controle e acompanhamento, pode trazer prejuízos materiais e naturais incalculáveis. Também, podendo causar dano à saúde pública, se ocorrer em proximidades de aglomerados humanos, e adjacências urbanas. Além de evidentemente poder causar acidentes se ocorrerem nos arredores de vias de trânsito intenso de veículos, como era o caso. Ou mesmo se ocorrer em estradas vicinais, sem a devida sinalização e orientação aos passantes.

Veja bem, apesar do grande susto, não queremos posicionar contrários às queimadas em si, neste momento, pois é um procedimento prático que beneficia os proprietários rurais menos favorecidos economicamente. É eficiente e barato este método. Posicionamo-nos sim, contra a forma utilizada do fogo, (se autorizado), pois se for assim, parece ser sem o devido controle e aparentemente um desrespeito à vida alheia e dos demais que interagem com estes proprietários rurais e seus ambientes. Que a princípio merecem mais orientações tanto do poder público, por parte da SEMA (que deveria notificá-los e enquadrá-los nos termos da Lei), como dos seus técnicos que os orientam e assessoram nesse labor.

Quanto aos focos, o Estado deverá permanecer em alerta permanente até o início do período chuvoso, com base nas previsões do Instituto de Meteorologia, e com base na baixa umidade do ar e no calor que permanece. E,“Segundo números gerados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 2010 foram registrados em Mato Grosso 279.807 focos de calor. No ano passado, esse número caiu para 89.523 focos de calor registrados de 1º de janeiro a 31 de dezembro. Este ano, do inicio do ano até (16.07), pelo satélite AQUA UMD Tarde, foram detectados no Estado, 4.593 focos de calor.”

Pois bem, apesar do susto conseguimos chegar ao nosso destino e não vimos nenhum outro sinistro. E enfim, a comemoração do dia dos pais para nossa família vai ficar marcada pelo incidente daquele sábado, 11 de agosto. Mas que seja entendido este relato como um protesto. Ora o projeto Mato Grosso sem fumaça deve mesmo deixar a condição de projeto e se tornar mesmo um programa de governo, é o que todos esperam.


Domingos Sávio Bruno
é Engenheiro Florestal e escreve todas as quintas para o site NOPODER - Email: saviobruno@terra.com.br



Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/90/visualizar/