Dilma resistiu e vai vencer
O clima de Fla x Flu em que se tornam as eleições é algo admirável. No último dia três, lá na Central de Apuração e Totalização do TRE no Centro de Eventos do Pantanal dava gosto ver (no meu caso, apenas ouvir) os apupos e alaridos das torcidas compostas por cabos eleitorais e simpatizantes dos candidatos, toda vez que era divulgada uma parcial.
Um dos pontos altos da apuração foi quando Silval Barbosa passou a pontuar 49 vírgula alguma coisa no percentual de votos. Deu para ouvir do outro lado da ponte a gritaria das torcidas de Mauro Mendes e Wilson Santos, juntas, unidas, ombreadas, irmanadas no uníssono ‘vitorioso’ do segundo turno! Minutos depois, quando Silval voltou a pontuar acima dos 50%, foi a vez da torcida governista fazer a ovação.
Essa é a tão decantada “festa” da democracia. Em massa, os homens se comportam como meninos, no tal nivelamento por baixo que nos homogeneíza cognitivamente. Retiram suas máscaras e deixam brotar seus sentimentos mais íntimos, numa explosão de espontaneidade. É mais ou menos o que ocorre nos estádios de futebol. Afora os espasmos de violência que volta e meia tornam os espetáculos em tragédias, a algaravia da massa é quase sempre apoteótica, deliciosa de se ver e de fazer.
O problema é quando o comportamento espontâneo da festa democrática sai do confinamento humano dos espaços comprimidos dos centros de eventos ou mesmo dos estádios e vira histeria coletiva, afetando agora individualmente as pessoas que antes eram afetadas no coletivo.
Esse clima da histeria, meio fascista, meio fanático, marcou a virada do primeiro ao segundo turno das eleições presidenciais no Brasil. Felizmente, já o podemos dizer hoje, a adrenalina da onda anti-lulista-dilmista-petista cedeu lugar à reflexão racional de que a eleição em disputa não é para Papa ou Bispo de igreja evangélica, mas sim para o poder central do país. Isso implica uma atitude bem menos passional e delirante diante dos candidatos e dos projetos em disputa, devolvendo ao centro do debate os temas que de fato são relevantes, como economia, desenvolvimento, infra-estrutura, política externa, segurança e saúde, educação, democracia, desenvolvimento sustentado, entre outros.
Serra cresceu, é verdade, como seria óbvio e lógico, uma vez que era o depositário natural e inicial dos votos dados pelo típico eleitor de oposição que não esteve com ele e sim com outros oposicionistas no primeiro turno. Contudo, nem todos os eleitores de Marina e Plínio, para citar os dois mais badalados, migraram – como não migrariam totalmente para qualquer outro nome – para Serra, que, pelo que indicam os últimos estudos, estagnou, parou de crescer.
No anverso da moeda, Dilma, apesar da histeria coletiva da virada dos turnos, não caiu nas pesquisas, mantendo os mesmos votos que recebeu no dia 3, ou até os aumentando um tiquinho. Dilma obteve 46,9% dos votos no dia 3; ficou com 49% no IBOPE do 13 (única do segundo turno até o momento em que escrevo); 46,8% na da CNT Sensus do dia 14 (o menor índice geral); e 51% na da Vox Populi, do dia 19 (o maior índice).
Considerando estes números – e também a mudança do tom do debate para temas mais racionais -, não é prematuro tampouco temerário afirmar que falhou a tática tucana do terrorismo fascista, que fracassou a imposição do medo pelos setores reacionários e conservadores das igrejas – incensados pela tucanada.
E tudo isso indica com segurança, em primeiro lugar, que Dilma Roussef, a primeira mulher que ousa chegar à presidência da República no Brasil, resistiu a uma das mais violentas e agressivas campanhas de difamação como nunca antes na história deste país. Por si só tal fato já a inscreve na categoria dos grandes líderes do país doravante. E, em segundo lugar, ao ter resistido e sobrevivido a essa ‘guerra santa’ dos primeiros 15 dias do segundo turno, é tese bastante concreta que Dilma será eleita no próximo dia 31, a menos que a oposição agora decida eliminá-la fisicamente, dando assim sua uma última e definitiva demonstração de intolerância democrática e conservadorismo.
* KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. e-mail: kleberlima@terra.com.br
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