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Opinião
Quarta - 25 de Agosto de 2010 às 14:05
Por: João Guilherme Sabino Ometto

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A fantástica conquista do nono título da Liga Mundial de Vôlei, no final de julho, torna a Seleção Brasileira a maior ganhadora da modalidade no Planeta e posiciona Bernardinho como o técnico de maior sucesso em nosso País, dentre todos os esportes. A invejável performance, que neste momento pretere as chuteiras e suscita o advento da Pátria de Joelheiras (sem qualquer demérito à antológica frase de Nélson Rodrigues...), justifica análise comparativa com o time de Dunga, eliminado de maneira prematura na Copa da África do Sul.

Bernardinho não colocou em quadra o melhor jogador de vôlei do mundo, Giba, porque este não estava em sua plena forma física; deixou no banco de reservas o próprio filho, Bruninho; e disputou a competição com os melhores atletas que dispunha, sem levar em conta idade e experiência. Até parece a antítese do time de Dunga, que havia vencido a Copa América, a Copa das Confederações e até as eliminatórias sul-americanas, mas fracassou no seu objetivo principal, ou seja, o hexacampeonato.

A breve avaliação tem interessante analogia com a economia brasileira: esta, a exemplo da Seleção de Futebol da era Dunga, tem conquistas importantes, mas encontra sérias dificuldades para consumar a meta maior do desenvolvimento. Os obstáculos referem-se a problemas há muito identificados, mas jamais resolvidos, bem como à retomada de barreiras que já se imaginava superadas. É o caso, por exemplo, dos juros, os mais altos do mundo, que voltaram a entrar num fluxo de elevação desde junho.

Enganam-se os que acreditam ser a nova escalada da Selic resultante de um temor das autoridades monetárias quanto ao risco de recrudescimento da inflação de demanda. Ora, todos sabem que a indústria e a agropecuária têm plenas condições de atender ao aumento do consumo. Na verdade, a elevação dos juros decorre da consciência, por parte do Banco Central e do Copom, quanto às reais impossibilidades de o Brasil suportar expansão do PIB próxima ou superior a dois dígitos, como se prenunciava no primeiro trimestre deste ano.

É decisivo, portanto, entender os porquês dessa limitação. Os problemas mais graves são os seguintes: a deficiência da infraestrutura, que reduz a capacidade de movimentação de cargas e encarece os fretes; a má qualidade do ensino público, cujos reflexos mais danosos são a exclusão social e o apagão de mão-de-obra; os impostos muito elevados; e o incorrigível desequilíbrio fiscal do Estado. É inadmissível continuar postergando as soluções, que implicam a realização das reformas estruturais (tributária, fiscal, previdenciária, trabalhista e política), aguardadas com ansiedade pelos brasileiros pelo menos há 22 anos, quando se promulgou a Constituição de 1988.

Para não nos limitarmos à análise teórica da questão, basta recorrer a recente pesquisa, concreta e inquestionável, do Departamento de Competitividade da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), na qual as empresas entrevistadas escancaram os motivos pelos quais têm dificuldade de fazer investimentos produtivos. A elevada carga tributária é a principal barreira. Outro fator limitante é o juro alto, que impõe riscos ao investimento ao agravar as despesas financeiras, ao inibir a demanda dos produtos industriais e ao estimular a especulação. Escassez e dificuldade de acesso ao crédito (em especial por pequenas e médias empresas) e o câmbio valorizado (letal para os exportadores) complementam os obstáculos.

São equívocos recorrentes, que explicam porque o crescimento econômico do País segue muito ligado ao consumo e pouco afeto à âncora sustentável dos investimentos e da poupança. Os próprios e louváveis acertos do governo durante a crise de 2008/2009 deixaram claro que menos impostos, juros menores e mais crédito são os combustíveis da prosperidade. Por que, então, insistir nos erros que os limitam, mitigando as virtudes brasileiras? Afinal, toda vez que se criam condições adequadas à prevalência das qualidades e exploração plena de seu potencial, o Brasil é vencedor. Se alguém dúvida, pergunte a Bernardinho e aos integrantes de seu time eneacampeão!

 
* João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro (EESC/USP), é vice-presidente da Fiesp, presidente do Grupo São Martinho e membro do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo.



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