Educação, vitórias e derrotas
Quando passei no vestibular, em 1980, na Universidade Federal de São Carlos, fui alertado que viveria na cidade vermelha do Brasil, ou seja cidade que agregava muitos comunistas. Na verdade, São Carlos mostrou-se uma cidade progressista, uma Florença em pleno estado de São Paulo. Certamente incutiu em mim uma grande tolerância às ideias divergentes.
Apesar do altíssimo nível educacional, atrapalhava muito as greves anuais dos professores e funcionários por melhores salários. O Brasil há muito não valoriza seus professores. Houve até uma greve que durou um mês.
E qual não foi minha surpresa ao ver pela televisão os professores da rede de ensino da Bahia comemorando 100 dias de greve. Nas universidades federais a greve já passou de dois meses. Nem na Ditadura houve tanto descontentamento. Quem diria, professores simpatizantes da esquerda brigando com governantes que eles elegeram...
E como é que o ex-ministro da educação vai fazer sua campanha a prefeito? O “bom menino” deixou essa bomba-relógio para o substituto resolver? Bem, ao menos não voto nessa cidade...
Por outro lado, tivemos a aprovação do Plano Nacional de Educação, que prevê aumentar os gastos (ou investimento?) do governo federal em educação para 10% do PIB. É um fator importante, mas o como vai ser gasto é mais.
Já o ministro Mantega acredita que isso vai quebrar o Estado brasileiro. Quem é o Mantega mesmo? Ah... é aquele economista que em julho de 1994 previu que o Plano Real não duraria nada em um artigo intitulado “As Fantasias do Real”. Só errou por 20 anos, já que agora ministro, pode matar a estabilidade econômica do Brasil. O ministro ainda afirmou que é preciso ter muito cuidado com o aumento de servidores. Uai, e a inflação não corrige a arrecadação do governo? Por que não repassar aos defraudados servidores públicos? Para fazer caixa para que? Fantasia é o que se faz agora.
Uma coisa é certa, não basta aumentar os recursos, tem que se investir bem. Não há dúvidas que bom salário vai atrair gente mais capacitada. Mas se isso fosse suficiente, como lembra o professor Naercio Menezes Filho, os funcionários do judiciário estão entre os profissionais mais bem pagos no Brasil. Entretanto, a justiça brasileira é uma das mais morosas do mundo e os seus funcionários vivem em greve.
O professor ainda cita que as pesquisas realizadas no Brasil e no exterior mostram que a gestão do sistema escolar é o que realmente faz a diferença. Outra questão importante é se o desempenho das escolas nos exames de proficiência está sendo monitorado de forma adequada, se é discutido com os professores e funcionários e quais são as consequências dessas discussões. Um ponto importante diz respeito aos professores. Como a escola lida com os professores que não estão fazendo seu trabalho adequadamente?
Outro dado importante, tamanho de classe, gastos por aluno e qualificação dos professores não parecem influenciar os resultados das escolas. Exemplo disso tudo é a cidade de Sobral no Ceará que conseguiu em apenas quatro anos aumentar o seu Ideb de 4 para 6,6, alcançando a meta estabelecida pelo governo federal para a cidade para 2021!
*MARIO EUGENIO SATURNO é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
mariosaturno.blog.com
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