Sonhar sonhos
No ano passado tive a oportunidade de percorrer todo o estado de Mato Grosso de carro, num esforço da Secretaria de Comunicação Social para integrar a imprensa do interior com a divulgação do governo, por solicitação do então secretário da Pasta, Eumar Novacki. Foram cinco meses viajando.
Ao final, trouxe algumas constatações muito interessantes que se tornam oportunas agora com as eleições. Conversei com donos e com profissionais da imprensa em todos os municípios. Não posso evitar de recordar que na década de 70 e em 1997 fiz o mesmo trabalho. Tínhamos sete emissoras de rádio no estado em 1980, uma só em FM, a Cuiabana de Melodias, em Cuiabá. Hoje temos perto de 150 emissoras de rádio em ondas médias, FM, comunitárias e piratas, emissoras de tv na maioria dos municípios, jornais e sites em quantidade.
Porém, o que mais me chamou a atenção, foi o estágio de pensamento e de aspirações de todas as regiões e de todos os municípios. Mesmo os menores têm seu veículo de comunicação e constroem aspirações de ascensão. Não existem mais aqueles enormes vácuos de aspirações em municípios menores, que esperavam pela atenção especial dos governos para “salvá-los”. Hoje estão sonham os seus sonhos e brigam por eles.
Curiosamente, Cuiabá, a capital do estado vive uma letargia em relação ao restante do estado, cultivando a velha cultura de centro de poder político, econômico e administrativo. O poder financeiro da capital é muito grande porque o poder administrativo está concentrado nela. Mas o poder econômico da produção vem do interior.
Existem algumas variáveis completamente novas como a agricultura familiar em assentamentos e em pequenas propriedades. São 142 mil famílias, somando cerca de 700 mil pessoas, algo como 24%, numa população total de 3 milhões de habitantes. Isso significa uma massa emergente, bastante assistida pelos governo federal e estadual com crédito, com bolsas-família, bolsas-gás, com luz elétrica e com uma produção pequena que, somada aos ganhos sociais, dão-lhes um considerável poder de compra. E poder político, na medida em que eles estão sendo cooptados pelas igrejas evangélicas, ou por parlamentares que usam as igrejas como elemento de politização. Na prática, estão construindo modernos “currais eleitorais”, na medida em que isso seja possível hoje em dia.
A política do governo estadual de estimular a descentralização de determinados investimentos em regiões de maior desigualdade social, como Rosário Oeste (um frigorífico), Acorizal (uma fábrica de gelatina), Jaciara (um frigorífico), Nova Marilândia (frigorífico avícola), etc. está abrindo áreas novas de desenvolvimento. O raio de desenvolvimento se estende pela região e abre outras perspectivas de crescimento econômico, até porque um investimento desses atrai uma enorme cadeia de outros negócios afins.
Esse conjunto de situações, que na verdade, é muito maior do que o dito aqui, está sendo ignorado ou muito mal compreendido pelo mundo político para essas eleições. O discurso político deveria necessariamente considerar que sonhos se sonha nos 141 diferentes e diversos municípios de Mato Grosso.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@terra.com.br
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