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Opinião
Domingo - 15 de Agosto de 2010 às 15:49
Por: Bruno Peron

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Podíamos acreditar que os tempos modernos haviam sido cabalmente proveitosos para a humanidade devido à "facilidade de comunicação" e à velocidade extasiante dos "avanços tecnológicos". Tudo graças à globalização: o maior dos clichês e termo diz-que explica qualquer fenômeno.

No entanto, um olhar mais atento e mais sóbrio - deixando a caninha de lado porque a cana está tomando conta de tudo - permite visualizar que a história enguiçou. Pior que isso: a nossa espécie e o planeta só sobreviverão se um ente maior intervier e puser ordem na casa, corrigindo, portanto, os desvios de conduta. Somos um número muito grande de transtornados.

O primeiro deles poderá versar sobre o reconhecimento - muito custoso para alguns - de que as políticas públicas não devem priorizar carros, obras viárias e o setor que movimenta a indústria automobilística, como o de combustíveis (renováveis, não-renováveis, ou o que seja; que diferença faz para o bem-estar?), mas o ser humano em sua integridade. Pensemos em educação, moradia, saúde, lazer, etc.

É grande o desafio, assim, de retificar a falta de visão de administradores da "coisa pública", que teimam em concentrar investimentos para a circulação de bens tão materiais e privados como os automóveis. No lugar, deveria haver incentivo ao transporte coletivo com rotas alternativas, veículos compactos e ecológicos, e tarifas subsidiadas para ônibus, metrô, trem.

Um político tupinica local comentou uma vez que "o espaço público é de ninguém". Como conciliar esta visão torpe com o afã de uma população que é convidada cada vez mais a encerrar-se no lar e abrir mão de seus espaços de convivência, arduamente conquistados e facilmente perdidos?

Muito mais pertinente teria sido uma interpretação do espaço público como lugar de encontro e interação da coletividade, portanto digno de preservação em vez de pilhagem por demolidores ou malfeitores daquilo que temos em comum. Um lugar de todos!

Embora os centros comerciais (ou "shoppings" no vocabulário tupinica) sejam muito parecidos em qualquer cidade ou país, as pessoas insistem em refugiar-se nestes espaços porque o ambiente externo se tem convertido em lugares de incerteza, insegurança e desconfiança. Dizem que não há outra opção de lazer. Preferem, portanto, enfiar-se neles e ignorar em que cidade estão.

É inevitável fazer alguma referência ao local quando se quer interpretar contextos mais amplos, como o nacional. Identificam-se parâmetros relevantes na construção de um país digno, por exemplo o nível baixo e insatisfatório de cidadãos que temos.

Como poderíamos cobrar probidade de todos os representantes políticos se alguma parcela - infelizmente grande - do país conta com mal-intencionados? Assim funciona uma "democracia representativa", porém. Finalmente aflora a consciência de que a construção de qualquer nação digna depende de cidadãos ativos, envolvidos e voltados à causa comum.

Não devemos agir somente quando se viola um bem privado ou somos vítimas daquilo que o Estado tem contraditoriamente tirado o corpo, como a segurança pública. Policiais militares fardados fazem frequentemente segurança de clubes e festas privadas. A nossa participação deverá ser constante. Os governantes controlam a "coisa pública", enquanto nós, como cidadãos, controlamos aqueles. Se nos insatisfizerem, portanto, botamo-los para fora.

A continuidade do motor da história depende da geração de uma nova categoria de cidadãos, mais comprometidos com o espaço público e com a interação entre semelhantes. Alguns de nós poderemos estar entre eles; outros, nem na "Terra do Nunca".

Soma-se que não deverá haver qualquer desorientação sobre a funcionalidade do "público" e a nossa capacidade de engajamento sem fins sectários.

Deste modo, o motor da história precisa atravessar fases de esfriamento para que não enguice tampouco alcance a fundição. O tratamento para este sintoma, vale lembrar, não tem sido oferecido pelos promotores de um "progresso" sinistro, dentre os quais o do desmatamento.

Muitos destes agentes sequer residem na América Latina, mas vendem desde seus postos confortáveis nalgum casarão de luxo a ideia de um mundo melhor através do consumismo de seus produtos inúteis e do aquecimento de um setor produtivo que alimente o brutal e excludente "mercado internacional", o fetiche do momento.

Comprometimento com a justiça social e a vida é o conceito que falta.

É por isso que se fala tanto sobre o aumento do consumo na América Latina, a redução da poupança, a taxa de crescimento econômico anual, as exportações, o emprego a qualquer custo e tantos outros conceitos que falam grande mas pensam pequeno. No fundo, poucos entendem disto, mas estas informações circulam diariamente.

Chegou sua vez de escolher, caro leitor.

Você prefere ser cliente ou cidadão?


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