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Opinião
Terça - 29 de Junho de 2010 às 10:07
Por: Alexandre Garcia

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Um estudo recém-publicado sobre chimpanzés, feito pelo departamento de antropologia da Universidade de Michigan, Estados Unidos, mostra muitas semelhanças entre nós e nossos primos macacos. Os chimpanzés matam uns aos outros. Matam seus vizinhos. Matam para ampliar território, matam para ter mais acesso a alimentos e mais fêmeas. Atacam em grupos e depois de eliminado o outro grupo, ocupam o território e desfrutam dos alimentos do território conquistado. Os chimpanzés, como se sabe, são os hominídeos mais próximos de nós. Para se situarem, o chimpanzé mais conhecido é a "Chita" do Tarzan (pelo menos para os da minha idade...).

Nós fazemos semelhante. Guerreamos, matamos, buscamos riquezas e alimentos e ficamos com o botim - sejam fêmeas ou obras de arte. Museus como o do Vaticano, o Louvre e a National Gallery de Londres,são depositários de valores artísticos do Egito, da Grécia, do Oriente Médio. O obelisco que falta ao Egito está na Place de La Concorde, em Paris - imagine a ironia... Parece que podemos estabelecer a distância entre nós e os demais hominídeos por essas atitudes. Alguns estão mais próximos dos chimpanzés, outros mais distantes.

Nossas semelhanças também vão além. Pesquisas de DNA mostraram que chegamos a ter mais 90% de genoma em comum com os ratos. Também aí não há surpresa: temos tanta ratazana entre nós! Gente que furta dinheiro do povo com mais safadeza que um rato levando queijo. Porque o rato leva por instinto; a ratazana humana rouba usando a inteligência, sabendo que faz mal; que fará mal a milhares que ficam sem recursos para a saúde, educação, saneamento básico. Ratos humanos desviam verbas públicas para prevenir enchentes sabendo que um dia vão desabrigar milhares e matar dezenas.

É de entristecer a constatação de que levamos milhões de anos para chegar ao estágio bípede, que contrapõe o polegar aos demais dedos, que usa a inteligência para fazer julgamentos, que desenvolveu a filosofia e a psicologia para conhecer a si próprio, e ainda estejamos a agir como macacos e ratos. Temos de tudo, entre nós, e aí vai a pergunta: Que lado vai prevalecer? Sobrevivemos às cavernas, construindo armas para compensar nossa inferioridade com animais mais fortes e nos protegendo das intempéries e aprendendo a plantar alimento. Depois sobrevivemos às lutas tribais; aprendemos a construir, passamos a ouvir pensadores. Nos organizamos como nação, criamos o estado, descobrimos a democracia. Mas depois veio a escuridão. Religião e poder juntos, oprimindo a maioria. Veio a declaração de direitos inglesa e a revolução francesa.

Mas tivemos matanças, muitas. Religiosas, econômicas, ideológicas, e as temos até hoje. Matanças nas nossas cidades. Furtos, roubos, mentiras, engodos, falsidades institucionalizadas. Às vezes parece que ainda não aprendemos a pensar, porque agimos como tribo, enlouquecidamente. Aí, ficamos muito perto de nosso primo chimpanzé - que também ri muito e faz macaquices inconsequentes.


Alexandre Garcia
é jornalista em Brasília e escreve nesse espaço às terças-feiras. E-mail: alexgar@terra.com.br



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