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Opinião
Quinta - 06 de Maio de 2010 às 16:39
Por: Bruno Peron

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A questão migratória na fronteira entre México e Estados Unidos é aviltante e delicada. Não é simples sacar ilações de um contexto em que os colonizadores tiveram matrizes culturais completamente distintas e a fronteira de 3.000 km divide nações que pouco se entendem.

O modo de vida e outros produtos estadunidenses transpõem a linha divisória, inclusive com a venda de frutas em supermercados. México envia-lhes, em contrapartida, milhões de trabalhadores de baixa qualificação para exercer atividades braçais.

Do ponto de vista dos que advogam leis anti-imigratórias, não se deve acolher o migrante que busca melhores condições de vida que as que se lhe oferece seu país de origem. Assim, cada país é responsável pela garantia da qualidade de vida de seus cidadãos ainda que deploráveis.

Estes argumentos, porém, são desprezíveis e discriminatórios. É o momento oportuno para conhecer quem são os EUA, país que extrai as riquezas humanas e naturais de meio mundo a fim de sustentar um padrão de desenvolvimento concentrador e obsoleto.

Desabrocha o custo da opulência de pujantes em detrimento da marginalização de despossuídos. Nos EUA, só sobrevivem os que tiverem condições de pagar.

A última afronta ao bem-estar da espécie foi o projeto de lei migratória 1070 do republicano Russell Pearce no estado de Arizona. Por 17 votos a 11 e apesar da oposição de todos os votantes demócratas, a lei autoriza que policiais peçam documentos de identidade de qualquer um na rua para inibir a imigração ilegal.

O transporte e a contratação laboral de imigrantes ilegais passam também a ser ações criminosas além da falta de documentos. Com esta lei, tenta-se encurralar os "indocumentados".

Este projeto de lei foi considerado a medida anti-imigratória mais rígida já tomada nos EUA para controlar a imigração ilegal. O atropelo das decisões estadunidenses no âmbito migratório baseia-se no dado de que há ao derredor de 11 milhões de imigrantes ilegais nos EUA.

Pergunta que não cala é a de qual será o critério dos policiais ou agentes de migração para parar alguém na rua e solicitar os documentos de identidade.

Grupos de direitos civis, defensores da imigração e oficiais da Embaixada Mexicana nos EUA demonstraram preocupação com os rumos que a questão tem tomado. O medo, a perseguição e a desinformação são tônicas da sociedade estadunidense, como se depreende das fórmulas pasteurizadas de seu cinema.

Críticos do projeto de lei no Arizona afirmam que a medida é inconstitucional e tende a práticas discriminatórias principalmente contra os "Latinos" ou oriundos de países latino-americanos ainda que de gerações anteriores e, portanto, estadunidenses de nascimento.

Incompreensível é a fórmula com a qual um país essencialmente racista como EUA torna-se centro das atenções mundiais e pretenso baluarte de desenvolvimento. Antes são os paladinos da desgraça, que é tão grande quanto a de nações prostradas que recorrem frequentemente à "ajuda" financeira do ente sanguinário mas "exemplar".

EUA querem tudo menos que migrantes de países "terceiro-mundistas" cruzem a fronteira em busca do "sonho americano" ou daquilo que lhes foi negado por seus países de origem porque naquele não é mais que ilusão.

Os euânus desvairados são capazes de exibir a impiedade sem pudor com leis anti-imigratórias como a 1070 sem que o efeito lhes cause qualquer sentimento de compaixão sobretudo com aqueles de quem se lhes arrebataram 50% do território, os mexicanos.

O afã dos estadunidenses de dominar o mundo esbarra na pane de seu próprio sistema, que protege os produtores de algodão e contradiz a receita de "livre comércio". Poucos ainda acreditam nesses prestidigitadores e manipuladores de ideais.

Eles têm todo direito de defender seus cidadãos e seu território, mas com decência e respeito.

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