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Opinião
Segunda - 28 de Abril de 2014 às 10:23
Por: Pedro Félix

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Caetano Veloso em coautoria com Gilberto Gil, em uma de suas músicas de 1993 cantou sobre a relação do Brasil com o Haiti. A música é uma canção de reflexão sobre a pobreza existente no Brasil e aquele país, refletida na cor da pele da pessoa negra.

Ela aperta todas as nossas feridas, oriundas de desigualdades e preconceitos. O refrão da música diz: “Pense no Haiti, reze pelo Haiti. O Haiti é aqui. O Haiti não é aqui”.

O Haiti está localizado na América Central, divide seu território com a República Dominicana. Historicamente fez parte dos descobrimentos de Cristóvão Colombo em 1492, quando do descobrimento da América.

A parte da ilha reservada ao Haiti pertenceu à Espanha, depois cedida à França, tornou-se uma próspera colônia de açúcar, cacau e café.

Entre 1794 e 1801 revoltas de escravos libertaram os haitianos do domínio francês, tendo como lideres Jean Jacques Dessalines e Toussaint Louverture.

A primazia da independência do Haiti não trouxe sua independência econômica, nem fez dele um país moderno, dinâmico e desenvolvido. Pelo contrário tornou-se o pior país da América para se viver.

A expectativa de vida não chega aos 50 anos de idade, a desnutrição e a fome generalizada faz do Haiti um lugar horrível, um verdadeiro inferno na terra.

Depois da independência foi novamente assediado pela França que cobrou dívidas decorrentes das revoltas e com o tempo invadido pelos EUA, viu uma sucessão de presidentes serem depostos e a economia virar poeira.

Em 1957 o médico François Duvalier e seu filho Jean-Claude Duvalier, respectivamente Papa Doc e Baby Doc, implantaram um ditadura com terrorismo policial e exploração do Vodu (sistema de magia negra).

Uma revolta popular expulsou Baby Doc em 1986, mas o país continuou com regimes militares instáveis até a chegada do padre salesiano Jean-Bertrand Aristide em 1990.

O que parecia uma solução tornou-se mais um golpe de estado, entre 1991 e 2004 o país se esfacelou. Literalmente faliu e suplicou ajuda a ONU para sair de seu inferno astral, que praticamente se arrasta desde a sua independência no século XVIII.

A história do Haiti não foi das mais fáceis para seus habitantes. A desgraça é companheira constante dos haitianos.

Mas onde entra o Brasil nesta história? Por que eles estão desesperadamente entrando agora no Brasil em busca de uma vida melhor? Por que o Brasil e não outro país?

"Na época o presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, querendo uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU (O órgão mais importante das Nações Unidas), se ofereceu para liderar uma missão internacional de paz para o Haiti"

Tudo começou com o pedido de ajuda do Haiti a ONU. Na época o presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, querendo uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU (O órgão mais importante das Nações Unidas), se ofereceu para liderar uma missão internacional de paz para o Haiti.

A MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti) foi criada em 2004. São dez anos da implantação da missão, tendo inclusive um suicídio ainda sem explicação do General brasileiro Urano Bacelar, comandante da missão dentro do território haitiano.

Os americanos passaram uma batata quente para nós, já gastamos mais de dois bilhões de reais no Haiti, aquilo mais parece um poço sem fundo.

Uma década se passou e parece que nada mudou, e para piorar ainda mais, em 2010 um terremoto abalou mais ainda a estrutura do país, matando milhares de pessoas e desabrigando outros milhões. Desgraça pouca é bobagem, o Haiti não tendo mais uma estrutura política, militar, social, econômica, virou um lugar para se sair na primeira oportunidade.

A MINUSTAH fracassou como fracassou a loucura de ver o Brasil, como um país pertencente à elite da ONU. Sobrou aos militares que compõem as forças policiais no Haiti, juntamente com os do Brasil tentar conter um bando de pessoas sempre desesperadas sem solução imediata para seus problemas.

A solução militar para o Haiti, respeitando as devidas distâncias parece ser a mesmas das unidades pacificadoras do Rio de Janeiro (UPPs). Querem usar a força, a brutalidade para pacificar pobres. Puro fascismo.

O Haiti precisa de tratores, de infraestrutura para reerguer o país e não de força bruta. A MINUSTAH fracassou e o Brasil não sabendo como sair desta enrascada, está trazendo o problema haitiano para nosso território.

O que fazer com essa massa de pobres desnutridos e sem futuro imediato? Já temos problemas demais e não conseguimos resolvê-los, nossos pobres vivem em favelas e na famosa periferia cercado de policiais que batem sem dó e querem pacificá-los a custa da submissão e da aceitação da desigualdade social.



Autor

Pedro Félix

PEDRO FÉLIX é escritor, autor dos Livros de História de Maro Grosso 1ª, 2ª e 3ª edições, e Cuiabá, centro da América do Sul

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