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Opinião
Segunda - 12 de Junho de 2017 às 15:03
Por: Eduardo Gomes de Andrade

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Israel Pinheiro conquistou o governo de Minas em 1965. Venceu nas urnas em 720 dos 722 municípios. Sua eleição foi uma resposta ao duplo ato ditatorial contra JK: primeiro cassaram seu mandato e seus direitos políticos; depois, estenderam a punição da cassação ao cônjuge, para impedir que dona Sara fosse eleita governadora.

Israel era do time de JK. Foi seu contemporâneo de juventude e o principal engenheiro na construção de Brasília. Hábil, aquele grande mineiro respeitava os adversários. Porém, em Minas a política sai das veias onde corre com o sangue, ora pra prejudicar ora pra ajudar.

Enquanto árabes e israelenses se matavam nas areias do deserto na Guerra dos Seis Dias, em Minas havia paz. Tanto assim, que depois de amargar dois anos longe do Palácio da Liberdade, o prefeito de Jordânia foi de espírito desarmado até lá. Sua ausência da sede do poder tinha razão: Israel levou uma lavada nas urnas naquela terra.

Com o sangue fora das veias adversários do prefeito sempre o alertavam: cuidado! Não vá até lá, pois o velho é vingativo. Porém, precisando de um hospital, ele perdeu a cisma, pegou um Jeep até Governador Valadares e, de lá, num trem da Vitória a Minas foi ao encontro do homem.

O governador o recebeu de braços abertos. Antes que o prefeito pedisse algo Israel prestou contas de seu governo em Jordânia. Disse que nunca deixou faltar merenda, que repassava pontualmente os recursos da saúde e que havia policiamento. O anfitrião destacou a boa conservação das estradas e o político do interior concordou bem mineiramente, “é mês’ aquilo tá um tapetim”.

Depois de muito falar Israel deu voz ao prefeito. “Preciso de um hospital pruns 30 leitos”. O governador sorriu enigmático. “Meu filho, hoje, nem taxando a pecuária eu conseguiria recursos pra tanto, mas não se desanime. Na próxima semana mandarei a resposta pra você no Jornal da TV Itacolomi”, resumiu o anfitrião.

O prefeito pegou o trem e depois o Jeep; foi pra casa. Na chegada, a pequena cidade em peso queria saber das novidades. Ele pediu um tempinho pra tirar a poeira da estrada. Enquanto a água morna caía, a sala permanecia apinhada e em silêncio.

Banho tomado Sua Excelência bota roupa limpa e vai ao encontro. Vereadores e seus suplentes, secretários, cabos eleitorais e curiosos querem ouvi-lo. Antes que começasse a falar, uma chamada do Jornal da Itacolomi criou um clima de expectativa. O locutor disse “É gravíssima a situação entre Israel e Jordânia”. Muitos se cutucaram: “bem que o povo dizia!”. Prosseguindo, o apresentador botou lenha na fogueira: “Israel vai invadir a Jordânia”.

Pálido, com as mãos geladas, Sua Excelência reagiu à ameaça. “Vai invadir a mãe; vou pra porteira esperar!”. Pegou a carabina 44 e a garrucha Laporte 380; foi.

Eduardo Gomes de Andrade é jornalista

eduardogomes.ega@gmail.com



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