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Opinião
Quarta - 08 de Maio de 2019 às 07:52
Por: Gabriel Colle

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Sobre as declarações do pesquisador Jackson Barbosa, da Universidade Federal de Mato Grosso, na entrevista veiculada no último domingo (dia 5) pelo MidiaNews, lamentamos a maneira que um debate tão importante e complexo como a segurança e preservação ambiental no campo tenha enviesado para o preconceito contra o setor produtivo. Principalmente no que tange à aviação agrícola.

É leviano dizer que áreas rurais e urbanas sofrem contaminações indiscriminadamente por causa da pulverização aérea. Mais do que isso, trata-se de um tipo de declaração que, ao invés de proteger as pessoas contra o mau uso de produtos nas lavouras, acaba gerando efeito justamente contrário ao que alegadamente se propõe. Isso porque “elege” como culpada justamente a única ferramenta que tem legislação própria, o maior investimento em tecnologias de ponta para precisão e a exigência de especialização técnica para a equipe envolvida nas operações. Em última instância, a mais segura.

Culpar operadores aeroagrícolas indiscriminadamente por contaminações rurais ou urbanas carece inclusive de lógica elementar

Culpar operadores aeroagrícolas indiscriminadamente por contaminações rurais ou urbanas carece inclusive de lógica elementar. Por um raciocínio simples: uma operação aérea em uma lavoura é, em princípio, mais cara do que uma operação com trator ou outros pulverizadores terrestres. Só que ela se torna economicamente muito mais vantajosa no fim, pela alta produtividade. Simplesmente porque aproveita melhor os produtos aplicados e evita o retrabalho.

Se a alegação de Barbosa tivesse fundamento, o próprio mercado já teria extinto a aviação agrícola – e ela não estaria fazendo 72 anos de Brasil em agosto e nem completando seu centenário no mundo daqui a dois anos. A aplicação de produtos para a proteção das lavouras representa a parcela mais alta dos custos de produção.

Além de nenhum agricultor usar agrotóxicos simplesmente porque quer, quando o faz é para que seja sem perdas. Ou seja, justamente para o investimento “não ir para as nuvens”, como menciona o pesquisador.

Somem-se a isso os dados do Censo 2006 do IBGE, segundo os quais no Mato Grosso, naquele ano, 13.964 propriedades rurais tiveram aplicações de agrotóxicos por pulverizadores costais, 4.407 por tratores ou por equipamentos de tração animal, 1.120 por pulverizadores estacionários e 342 por outros meios terrestres. Tudo isso contra 663 que fizeram uso de avião, de uma frota que hoje é de 474 aeronaves no Estado.

É importante lembrar que os mesmos produtos aplicados por aeronaves são usados também por equipamentos terrestres, de tratores a pulverizadores costais. Via de regra, nas mesmas quantidades e com os mesmos riscos, inclusive o de deriva (que é quando o produto se desvia do alvo).

Deriva que, aliás, ocorre quando não são observados parâmetros de velocidade do vento, temperatura e umidade relativa do ar. E até aí o avião tem um diferencial positivo importante: sua velocidade permite que ele conclua toda a operação antes que qualquer um desses parâmetros se altere.

Além disso, quando o avião voa, não há ninguém na lavoura. O piloto tem que ter licença de piloto comercial e 370 horas de voo para entrar em um curso de piloto agrícola. Cada empresa precisa ter um agrônomo próprio responsável pelas operações e, em cada uma delas, a equipe de apoio na pista é obrigada a ter um técnico agrícola com especialização em operações aéreas.

Os produtos são preparados na pista, ou seja, não há embalagens no meio das lavouras, matos ou beira de cursos d´água. Aliás, a própria limpeza do avião (após a pulverização feita depois da tríplice lavagem) é realizada em um pátio de descontaminação (estrutura obrigatória por lei nas empresas aeroagrícolas), onde eventuais resíduos vão para um sistema de tratamento de efluentes.

Para completar, todos as operações geram relatórios com dados desde produto, quantidade aplicada, regulagem dos equipamentos e até o mapa do DGPS do avião – que registra cada passada do avião com uma precisão de centímetros e até onde o sistema foi aberto e fechado (tudo inviolável). Esses relatórios têm cópia enviada mensalmente para o Ministério da Agricultura e originais guardados na empresa obrigatoriamente à disposição de qualquer fiscalização.

Não se trata aqui de dizer que meio é melhor do que qual. Até porque todos são importantes e, muitas vezes, complementares. A intenção é escancarar o preconceito e mostrar o quanto a radicalização pode ser nociva para o próprio debate em torno do desenvolvimento sustentável. Além de destacar que, ao invés de “extinta do Brasil” –como alega Barbosa, a aviação devia ser valorizada pelo seu papel na produção eficiente, por sua transparência e aperfeiçoando contínuo.

GABRIEL COLLE é diretor-executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag).



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