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Opinião
Sexta - 18 de Setembro de 2020 às 09:41
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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Que a violência contra as mulheres é um delito recorrente, não há qualquer dúvida. Todos e todas se assustam com as imagens delas marcadas pelas lesões. Como alguém teria coragem? Por que?

Não há motivo. Mesmo assim, ainda que muitas se levantem ao narrar violências, as dúvidas fazem do imaginário.

No conhecido caso do médium João de Deus, o levante das vítimas foi primordial, inclusive, mostrando a forma que o agressor agia para cometer abusos e assédios sexuais. Roger Abdelmassih também conheceu o clamor feminino quando algumas vítimas se uniram em narrativas quanto aos delitos sexuais que ele havia cometido. Mesmo assim, tendo muitas falado, com provas, um pouco de dúvidas surgiu. Aliás, sempre brotam...

Nas muitas violências que acontecem contra mulheres, se perfaz de grande importância deixar nítida a separação sobre quem é a verdadeira vítima, e quem é o agressor.

Na década de 80, período de redemocratização que o Brasil estava passando, um lindo movimento tomou conta do nosso cenário: “Quem Ama Não Mata”.

Que a violência contra as mulheres é um delito recorrente, não há qualquer dúvida

Naquele momento, referida oscilação viria para ficar, e demonstrar que não deveria haver feminicídios de mulheres justificados por aqueles que se achavam no direito de “lavar a honra com sangue”.

Ora, pensavam eles: “traiu, eu tenho que matar”. Há muito é imperdoável se matar para “lavar a honra”. Rememorar a história é saber que muitos homens mataram aquelas que foram as suas companheiras por traição, ou suposição delas.

Usar de uma violência para o cometimento de outra como justificativa, não é possível tolerar. Aprender com a escola da vida é saber que: “Quando um não quer...”

Assim, em havendo desrespeito, o melhor é a cisão. E a separação pode partir de qualquer lado. Julgar que a mulher deve ser lesionada por conta de possível infidelidade é voltar aos primórdios.

O corpo dela a quem pertence mesmo? De mais a mais, um erro jamais irá justificar o outro.

A verdade a ser mostrada é que a violência contra as mulheres vem acontecendo em todas as classes sociais, e não escolhendo faces para vítimas e agressores.

Então, qual o motivo de tanta desconfiança, mesmo com provas trazidas, na palavra delas? Por qual razão, mesmo diante de áudios, vídeos e fotografias de agressões, elas são postas a prova?

Seria porque a palavra do homem, com “H”, inspira mais confiança? São eles pessoas mais leais? Quem teria criado essa máxima?

Depreciar a figura feminina para justificar agressões é o mais correto?

Por muito tempo se suportou em júris, conhecidos como “Tribunais Populares”, a apreciação de vítimas juntamente com agressores. Sim, isso é verdade. Às vezes, a memória da falecida, da pessoa assassinada, principalmente pelo companheiro, merecia mais consideração do que aquele que havia feito uso de facas e revólveres para lhe tirar a vida. Comemoremos, hoje não mais! Entretanto, a vigilância tem sido constante.

Voltando ao lamentável caso “João de Deus”, anos antes de as mulheres se unirem e denunciarem as variadas agressões sexuais, uma jovem lavrou boletim de ocorrências contando que havia sido por ele molestada. Ora, ela estava “sozinha”, era voz isolada. Claro, a sua palavra nada significou, tendo sido esse agressor absolvido, afinal de contas, ele era o “João de Deus”.

E ela quem seria? O resultado da absolvição foi devastador. O homem ganhou força, e passou a abusar de muito mais mulheres. Fez inúmeras vítimas. Se naquela ocasião, há tanto tempo atrás, houvesse credibilidade naquela voz unitária, quantas seriam poupadas?

Existem coisas que, de fato, não podem ser mudadas. A força física da mulher, em regra, será menor que a do homem. Contudo, paradigmas, conceitos, preconceitos, ditados e crenças populares, mudam sim. Modificam com a mesma força que elas se mostram, se juntam.

Ah, esse é real: “Mexeu com uma, mexeu com todas! ”

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.



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