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Opinião
Terça - 21 de Dezembro de 2021 às 09:46
Por: ROSANA LEITE

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Gloria Jean Watkins, a bell hooks em letras minúsculas, deixou o mundo da matéria no último dia 15 de dezembro, aos 69 anos. Escritora, professora, artista, ativista antirracista e feminista, fará enorme falta.

Nasceu de família bastante humilde, sendo criada e educada com mais cinco irmão e um irmão. A mãe trabalhou como empregada doméstica e ensinou as suas seis filhas que não deveriam ser dependentes de homens.

A escritora escolheu ser conhecida por bell hooks para homenagear a bisavó materna, e as letras minúsculas do nome significam que a escrita é a que deve ser prestigiada e não o nome dela, valorizando, inclusive, o movimento.

Como característica marcante, era possível perceber a simplicidade e a fácil compreensão, com a finalidade de atender a todos, todas e todes. Começou os seus estudos em escoladas públicas estadunidenses, que eram separadas por raça – Jim Crow -, com enorme segregação racial.

Até a chegada à escola diariamente o racismo predominava, quando estudantes negros deveriam tomar o ônibus 30 minutos mais cedo, chegando à escola e se dirigindo à quadra esportiva para esperar que brancos e brancas entrassem primeiro.

Porém, segundo dizia, mesmo assim, conseguiu praticar a liberdade desde a tenra idade, com os seus primeiros poemas aos 10 anos de idade. Disse:

“Naquela época, ir à escola era pura alegria. Eu adorava ser aluna. Adorava aprender. A escola era o lugar do êxtase – do prazer e do perigo. Ser transformada por ideias novas era puro prazer”.

Os recortes de mulheres, com a interseccionalidade de raça, classe, e gênero, fizeram parte da produção literária, enfatizando a dominação de classes fazem a perpetuação da opressão. Foi influenciada pelo nosso Paulo Freire com a respectiva pedagogia crítica.

As fases da escritora ficam assentes. Hooks trabalhou em suas obras o conhecimento, o ambiente acadêmico, o feminismo, o feminismo negro, a pedagogia crítica, e a produção cultural.

Ao final, trouxe muita reflexão sobre espiritualidade, amor e autoestima na perspectiva de raça, classe e gênero. É dela: “Honrar a nós mesmas, amar nossos corpos, é uma fase avançada na construção de uma autoestima saudável”.

Bell hooks amou desde sempre o mundo acadêmico, a visão pedagógica, justamente por ter presenciado, vivido na pele, o que é estar em escolas com predominância de brancos e brancas, recebendo lições de docentes que entendiam que a raça era critério para ser diferencial. Falava que nascer mulher negra na década de 50 no Sul dos Estados Unidos significava ocupar apenas o ambiente doméstico e familiar, como mãe e esposa, em razão do patriarcado e da condição racial.

O pai da escritora dizia que homens não gostavam de mulheres que falavam o que pensavam. Inclusive, no ambiente do lar recebeu várias punições por falar em demasia o que ponderava.

Para criar todo o ambiente propício ao enfrentamento, gostava de responder a perguntas que ela mesma criava. Os questionamentos eram infinitos, e são. Quanto mais questões, mais propositura de tentativa de resoluções. E quantas famílias não silenciam suas meninas? Em contrapartida, quantas famílias incentivam os meninos a se expressar? Eles são pensadores. Elas, falam demais...

Bell hooks não foi calada, apesar das muitas tentativas de minarem o seu intelecto, dentro e fora de casa. Transformou-se em uma das mais importantes intelectuais do mundo, com a publicação de mais de 30 livros em vários idiomas.

A escritora manteve durante toda a sua vida terrena um caso de amor com a escrita. Teve a importante existência pautada em justiça social, luta por igualdade e direitos humanos. A partir da década de 90, bell hooks ajudou a trazer a visão com reinvindicação para as mulheres negras, latinas e indígenas, com questionamentos sobre a normalidade de tratamento diferenciado para as mulheres brancas de classe média.

O imperialismo, a supremacia branca e o patriarcado foram as críticas de bell hooks, que também costumava afirmar que a indústria cultural só tem reforçado estereótipos.

Andar por caminhos tormentosos e difíceis foi a passagem dessa magnífica mulher. Algo diferente? Sejamos bell hooks!

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.



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