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Opinião
Segunda - 07 de Março de 2022 às 09:33
Por: RENATO DE PAIVA PEREIRA

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Durante o mês de março, os que escolheram um dia da semana para não comer carne (segunda sem carne), terão a companhia de religiosos que rejeitam um bom bife, nestes dias que antecedem a páscoa.

A abstinência de uns e de outros tem explicações diferentes. Os que o fazem por razões religiosas, estão cumprindo uma recomendação da Igreja Católica que sugere o jejum ou a renúncia de algo importante, para relembrar a morte de Cristo.

Para os que adotam a “segunda sem carne”, existem duas motivações: sofrimento dos animais ou prejuízo ambiental que a criação de bois para o abate traz para o planeta.

Entretanto os dois grupos, agem marotamente: os religiosos parecem esquecer que a Igreja recomendou, primeiramente o jejum, como forma de penitência auto imposta, para o cristão sentir um pouco o sofrimento de Cristo por ele. Mas habilidosamente os fiéis substituíram o jejum pela privação de carne durante a quaresma, depois restringida para as sextas-feiras. Como ainda estava meio difícil cumprir a meta, decidiram substituir a carne por peixe e todos ficaram felizes.

Progressivamente, chegamos ao ponto em que na sexta-feira da paixão, os devotos se “penitenciam” pelo sacrifício de Cristo, trocando a picanha gorda por um pacu assado ou uma boa bacalhoada. Convenhamos que é uma cômoda penitência!

Os que deixam de comer carne por supostos motivos ecológicos ou de empatia com os animais, carregam uma boa dose de hipocrisia. Ora, se é pelo sofrimento dos animais deveríamos também nos preocuparmos com as vacas. Estas são selecionadas pra desenvolver volumosos e incômodos úberes, que carregam com grande sacrifício. Portanto, se tem a segunda sem carne, é justo que criemos a terça sem leite, não comendo queijo, manteiga ou pizza nesse dia.

Também, para não discriminar as galinhas, é bom inventar um dia sem ovo, pois as aves são submetidas a grande estresse para produzir um ovo por dia, faça chuva ou faça sol. Se tem a segunda sem carne, terça sem leite, é mister criar a quarta sem ovo. Neste dia evitaremos tudo que tem esse produto na receita: omeletes, bolos, pães ou doces.

Agora, se os criadores da segunda sem carne, privam-se dela (da carne) por motivos ecológicos a incoerência é pior. Muito além dos possíveis danos que os animais criados para abate causam ao ambiente, são os males dos combustíveis fósseis que usamos todos os dias. Assim, para sermos coerentes criemos a quinta sem carro.

Mas, e a eletricidade que move as cidades de onde vem? Em termos mundiais, das termoelétricas à óleo diesel, carvão vegetal ou fusão nuclear. Aqui no Brasil a maioria é hidráulica, conseguida à custa de barragens imensas, que que comprometem rios, planícies e vales, deslocam moradores e tiram o sustento de muitos.

Logicamente, convêm protestarmos contra isso também, criando a sexta sem eletricidade: neste dia, nada de ligar condicionadores de ar ou tomar banho com água aquecida.

No sábado, vamos guardar nossos áureos colares, brincos, relógios e pulseiras para purgar-nos pelo tácito estímulo aos danosos garimpos de ouro, que fazemos com a ostentação de nossas joias.

Enfim chegou o domingo. Que tal uma churrascada no almoço e uma pizza no jantar? Afinal, redimidos por tantos sacrifícios, merecemos uma recompensa!

Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor



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