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Opinião
Sexta - 09 de Setembro de 2011 às 08:40
Por: Dirceu Cardoso Gonçalves

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Reciclar papel, plástico, vidro, ferro e outras matérias-primas é atitude política e ecologicamente correta. Evita a deposição na natureza desses produtos usados em forma de lixo e, ainda, poupa os minerais e vegetais que fazem parte de sua composição. Com a reciclagem, as reservas minerais ficam guardadas para as futuras gerações e os vegetais são mantidos em pé, atuando no equilíbrio ambiental. Mas o trabalho de reciclagem exige cuidados que, infelizmente, ainda não observados Brasil afora.
           
A indústria da reciclagem é abastecida, em boa parte, por mercadorias recolhidas por catadores que atuam na informalidade e convivem perigosamente, com seus carrinhos, no trânsito das cidades. O material que essa legião de desvalidos vende aos atravessadores do negócio normalmente é depositada sem cuidados técnicos ou higiênicos, em áreas inadequadas. Muitos desses depósitos mais se parecem com os “lixões” a céu aberto e expõem todo o seu entorno a riscos que vão desde a proliferação de pragas e doenças, como a dengue, à contaminação, como a do Césio 137, ocorrida em Goiânia, nos anos 80, e ao incêndio que, via-de-regra, consome a própria mercadoria reciclável e atinge imóveis vizinhos.
           
Tornou-se rotina o noticiário de fogo em depósitos de recicláveis. Dias atrás, uma dessas ocorrências, na grande São Paulo, colocava em risco uma fábrica de solventes vizinha à área sinistrada. Outro depósito, em Bauru (SP), embora localizado num distrito industrial, pegou fogo e queimou duas indústrias vizinhas.
           
Surgidos há décadas, inicialmente com os desmanches e reaproveitamento de veículos e peças – que acabou gerando uma indústria criminosa, hoje combatida pelas autoridades – os depósitos de recicláveis estabeleceram-se em áreas urbanas e arrebanharam desempregados e desvalidos que perambulam pelas cidades à cata de restos. Até ocorreram algumas tentativas de organizá-los e transformar o trabalho num negócio sustentável mas, na maioria das localidades, esses homens, mulheres e crianças não passaram de massa de manobra para atender a apetites eleitorais. O máximo que ganharam foi carrinho para empurrar, nas épocas de eleições.
           
Já passou da hora das autoridades e da própria sociedade olharem com seriedade para esse segmento, hoje movimentado apenas pelo lucro dos atravessadores e pelo suor dos desvalidos. É preciso um amplo trabalho social para formalizar essa gente e orientá-la a conviver com o trânsito e, principalmente, a proteger-se em relação a produtos químicos ou radioativos. Quanto aos depósitos, precisam ser colocados dentro das normas já existentes. Esses estabelecimentos têm de receber a mesma fiscalização e estar sujeitos aos alvarás técnicos da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros ou, então, não devem poder funcionar. Questão de segurança e sustentabilidade...
 
 
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
aspomilpm@terra.com.br


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