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Opinião
Sábado - 18 de Junho de 2022 às 04:57
Por: Gonçalo Antunes de Barros Neto

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Uma das principais características da pessoa é a busca pela liberdade. Ser livre passa a ter significado parecido com a felicidade, tamanha a importância do conceito para a percepção.

Um de seus maiores teóricos, Leibniz afirma a existência de três condições para a ação livre: inteligência, espontaneidade e contingência. Rawls as expressa de modo mais completo, destacamento que a inteligência é um conhecimento claro do objeto de deliberação; a espontaneidade, o meio pelo qual nós mesmos determinamos a ação realizada, e a contingência como a ausência de necessidade lógica ou metafísica, valendo afirmar, a liberdade é impossível se há apenas uma opção (História da Filosofia Moral).

Ser livre passa, então, pelo agir livre, com liberdade considerando a inteligência, espontaneidade e contingência. Se se aprofundar somente em uma delas, como a espontaneidade, por exemplo, já teremos uma boa sensação da dificuldade do caminho traçado em busca da própria felicidade, pois, liberdade se traduz em felicidade, sendo a primeira condicionante da segunda.

A condição humana (diferentemente da natureza humana, se é que se possa considerar a sua existência) tem como um de seus atributos de realização plena a liberdade.

O homem nasceu para a liberdade, o que levou Sartre a considerar que está condenado a ela, dado o processo de formação e existência de cada qual. Se condena nas ações justamente por ser livre e, em sendo livre, poderia ter optado por caminhos outros, melhores, a cada deliberação inteligente, espontânea e contingente.

Não seria livre, portanto, quem delibera sem conhecer a extensão e profundidade das consequências ao lidar com determinado objeto ou situação, adoçando suas preferências cognitivas com o costume, tradição, valores ou mesmo pela moral comum. Vale ressaltar, não seria livre quem não se dá o direito de renunciar aos próprios preconceitos (“pré”, anterior, conceitos).

Também, não será livre quem não for a causa motora e determinante das próprias atitudes. O “vai com os outros”, aqui, não serve nem como pedaço de lixo. Ser espontâneo exige convicção independente, diria até simplória frente às ações e caminhos do senso comum, negando-os por ingenuidade.

Livre, ainda, será quem não busca amparo no materialmente inexistente, naquilo que não possa ser alcançado pela sensibilidade, apalpado, escutado ou mesmo visto. Livre é aquele de “pé no chão”, sem rodeios e devaneios, ou seja, sem muletas ilusórias a ampará-lo nas inquietações e tomada de decisões.

Liberdade, assim, vem acompanhada por felicidade já que é uma condição humana, é essência e não aparência, é fruto do que é e não do que deveria ser. Afugentar a si diante dos outros é perdê-la, escamoteá-la, depositá-la nas mãos de terceiros.

A falta dessa consciência reflexiva gera mais angústia (negativa, sem a capacidade transformadora) e tristeza, desaguando em ansiedade e depressão. Aquele botão do “que se dane”, aparentemente invasivo, mal-educado, talvez seja o melhor dos remédios a muitos. O armar-se diante da percepção de aceitação social é eficaz, penso, contra a malvadeza e cinismo dos olhares preconceituosos.

Na poesia musical de Chico Buarque: ... Prefiro então partir/ A tempo de poder/ A gente se desvencilhar da gente/ Depois de te perder/ Te encontro, com certeza/ Talvez num tempo da delicadeza/ Onde não diremos nada/ Nada aconteceu/ Apenas seguirei, como encantado/ Ao lado teu (Todo o Sentimento).

É por aí...

Gonçalo Antunes de Barros Neto é graduado e professor de Filosofia e magistrado.



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