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Opinião
Segunda - 25 de Julho de 2022 às 09:52
Por: Paulo Wagner

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A cena de Jesus indignado, usando uma corda como chicote para açoitar e expulsar os vendilhões do templo, derrubando as mesas e esparramando no chão as moedas dos vendedores que faziam do templo de Jerusalém uma área de comércio de animais para sacrifício e outras quinquilharias, é pouco destacada, mas muito significativa nas narrativas bíblicas do novo testamento.

Como profeta bíblico que previu, entre outros acontecimentos, o saque e a destruição do templo de Jerusalém, que seria praticado pelos romanos décadas depois, Jesus também antecipou com sua desaprovação aos vendilhões do templo, o uso futuro que autoridades eclesiásticas, igrejas e pastores iriam fazer do seu nome para explorar a fé e conquistar dinheiro e poder. Na ocasião Jesus foi enfático ao dizer "Tirem tudo isso daqui! A casa do meu Pai não é lugar pra ficar comprando e vendendo coisas!".

É importante separarmos o joio do trigo, pastores e religiosos sérios e honestos que buscam ser fiéis aos preceitos bíblicos e pastores e religiosos picaretas que exploram a fé como fonte de enriquecimento, religiosos que utilizam as igrejas para se elegerem como parlamentares ou obter dinheiro e outros benefícios para apoiar políticos e candidatos.

Atualmente, uma cena comum é a visita de políticos a igrejas e eventos religiosos, onde os fiéis são orientados por pastores a votar em candidatos supostamente “ungidos por Deus”. Há poucos anos, vazou a informação que um famoso político de Mato Grosso reuniu, no hotel de uma cidade do interior, pastores de várias denominações religiosas e distribuiu, entre estes, volumes significativos de dinheiro em troca de apoio eleitoral. Logo depois vi este político sendo “ungido” por um pop star pastor, em um estádio lotado de fiéis.

Recentemente ganharam as manchetes jornalísticas o caso do ex-ministro da educação Milton Ribeiro, pastor de uma prestigiada igreja, que chegou a ser preso pela Polícia Federal por envolvimento num caso de tráfico de influência e corrupção para a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para prefeituras. Além do ministro, a polícia apontou o envolvimento de mais dois pastores evangélicos que cobravam propina de prefeituras para terem verbas da Educação liberadas. Três prefeitos afirmaram, durante audiência no Senado, que um desses pastores cobrava propina em dinheiro, ouro e até por meio da compra de bíblias para conseguir liberar verbas no Ministério da Educação.

Infelizmente a corrupção e manipulação política de fiéis virou moeda de troca e tem contaminado igrejas dirigidas por líderes inescrupulosos que utilizam a bíblia como arma de medo e dominação, não só para obter vantagens provenientes de emendas parlamentares e outros recursos públicos, mas também para desviar o dízimo dos fiéis, para tomar os bens de pessoas desesperadas com falsas promessas de prosperidade que só servem para enchem os bolsos desses charlatões. Pastores que utilizam os templos religiosos como feira para vender vassouras e óleos “ungidos” e os produtos os mais estapafúrdios, com a finalidade vil de enganar fiéis que buscam conforto, esperança e a cura de seus males na religião.

Estes dias vi, por acaso na TV, um destes pastores enriquecidos pelo uso oportunista da fé alheia, dizer num culto para empresários que agora o dízimo ao invés de uma contribuição, deveria ser três, um para o Pai, um para o Filho e outro para o Espírito Santo. A ganância desses vendilhões além de sacrílega, parece não ter limites. Queria saber quanto destes dízimos são usados para auxiliar órfãos e viúvas como originalmente manda a bíblia.

Devido a influência política conquistada pelos vendilhões do templo, há um corporativismo envolvendo os poderes constituídos para proteger as bandalheiras praticadas pelos que usam a religião para obter poder e vantagens pessoais, para os que usam o nome de Jesus para enganar pessoas ingênuas e pouco esclarecidas sobre os verdadeiro princípios do cristianismo. O Brasil, também, ainda está longe de ser um Estado laico como reza a nossa Constituição, uma vez que a construção da democracia requer tempo e uma população politicamente mais esclarecida para evitar abusos e o uso político das religiões.

Mas uma coisa é certa nestas reflexões sobre o mau uso da fé e da religião, se Jesus, que disse que o reino dele não era deste mundo, voltasse hoje, os primeiros que seriam chicoteados pelo seu poder e justiça seriam, com toda certeza, os vendilhões do templo. Pois como ele ensinou no Sermão da Montanha, “Uma pessoa não pode servir a Deus e a Mamom”, ou seja, não pode servir a cobiça que corrompe o coração do homem e o afasta de Deus.

Paulo Wagner é escritor, jornalista e mestre em estudos de linguagens e literatura.



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