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Opinião
Terça - 04 de Outubro de 2022 às 06:50
Por: Gonçalo Antunes de Barros Neto

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Em época de eleições, os ensinamentos dos pensadores clássicos são importantes para nos levar à reflexão antes de exercermos o sagrado direito do voto.

Em A República, Platão retrata uma das mais intrigantes inquietações da humanidade: a ideia de justiça. Dialogando especialmente com Trasímaco, Sócrates tenta convencê-lo do que seja e da vantagem em ser.

Afirma Trasímaco: ‘Mas quando um homem, além da fortuna dos cidadãos, se apodera das suas pessoas e os escraviza, em vez de receber esses nomes ignominiosos, é considerado feliz e afortunado, não apenas pelos cidadãos, mas também por todos aqueles que sabem que ele cometeu a injustiça em toda a sua extensão; com efeito, não receiam cometer a injustiça os que a reprovam: receiam ser vítimas dela’.

E continua: ‘Por isso, Sócrates, a injustiça levada a um alto grau é mais forte, mais livre, mais digna de um senhor do que a justiça e, como eu dizia a princípio, a justiça significa o interesse do mais forte e a injustiça é em si mesma vantagem e lucro’.


Mais adiante, quando Sócrates pergunta se a injustiça seria perversidade de caráter, Trasímaco responde que não, mas prudência.

Sócrates resume, então, a ideia central de Trasímaco: ‘o justo não prevalece sobre o seu semelhante, mas sobre o seu contrário; o injusto prevalece sobre o seu semelhante e o seu contrário’.

O argumento de Trasímaco era sofista, prático, queria vencer o embate, mas não descortinar a verdade. Sócrates buscava a verdade, o verdadeiro sentido do justo, a explicação e alcance, e não o viés pragmático e de sobrevivência social.

Adimanto acrescenta algo: ‘se eu for justo sem o parecer, não tirarei disso nenhum proveito, mas sim aborrecimentos e prejuízos evidentes; se eu for injusto, mas gozando de uma reputação de justiça, dirão que levo uma vida divina. Portanto, visto que a aparência, como o demonstram os sábios, violenta a verdade e é senhora da felicidade, para ela devo tender inteiramente’.

Realmente, as pessoas, enquanto ignorantes, são levadas pela necessidade, e a aparência parece representar mais felicidade, tendo sua representação máxima nas convenções sociais. Pratica-se a injustiça para sobreviver na ideia de conjunto, de busca da aceitação pelo grupo e de espaço social, ainda que a extrema injustiça consista em parecer justo, não o sendo.

Em arremate, por vergonha alheia, de Sócrates: ‘a mentira nos discursos nada mais é que uma imitação do estado da alma, uma imagem que se produz mais tarde, e não uma mentira absolutamente pura’.

O estado da alma, nessa quadra rasteira e ilusória, não se aconselha no bem e dele não se tem origem. O bem é princípio primeiro, não é passageiro e, por ser perfeito, emana somente perfeição.

E conclui Sócrates: ‘E Deus é essencialmente simples e verdadeiro, em atos e palavras. Deus não muda de forma e não engana os outros, nem por simulacros, por discursos e nem pelo envio de sinais, no estado de vigília ou nos sonhos’.

Se quiseres se desculpar, portanto, invente outros deuses, pois O Verdadeiro, que dá sentido a tudo que há de bem e de bom, não se deixa enganar.

Então, não se engane e nem se deixe enganar.

É por aí...

Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia e Direito.



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