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Opinião
Quinta - 02 de Fevereiro de 2023 às 09:25
Por: Cristina Cuiabália

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Elas são tão vitais para a sobrevivência humana que em 1997 ganharam uma data comemorativa e são homenageadas internacionalmente. Mas, muito antes de serem celebradas a cada dia 2 de fevereiro, as áreas úmidas já eram foco de atenção de uma boa parte dos países com o estabelecimento, em 1971, da Convenção de Ramsar, um tratado intergovernamental cuja missão é “a conservação e o uso racional de todas as zonas úmidas por meio de ações locais e nacionais e cooperação internacional, como uma contribuição para alcançar o desenvolvimento sustentável em todo o mundo”.

Sua importância se dá por serem ambientes que não se definem como totalmente terrestres, nem totalmente aquáticos. Estão exatamente nesta interface, marcados por ciclos de inundação das águas que variam amplamente dependendo de cada localidade. Por isso, as áreas úmidas estão dentre os ambientes mais produtivos do mundo, sendo verdadeiros berços de biodiversidade, pulsando vida, fornecendo água e inúmeros outros recursos dos quais dependem todas as espécies de plantas e animais para sobreviver, inclusive nós, humanos.

Tendo suas origens na cidade de mesmo nome, situada ao norte do Irã, banhada pelo mar Cáspio, a Convenção de Ramsar, também chamada de Convenção Internacional das Zonas Úmidas, exerce sua missão na forma de um pacto no qual os países se comprometem com a criação de Sítios Ramsar em seus territórios e garantem sua proteção ao longo do tempo. E o que seriam os Sítios Ramsar? São áreas delimitadas e reconhecidas por manterem o caráter ecológico das zonas úmidas, isto é, as características essenciais que garantem os serviços ecossistêmicos que estes ambientes provêm para a humanidade, que vão desde o abastecimento de água doce, alimentos, biodiversidade, até o controle de enchentes, recarga de águas subterrâneas e mitigação das mudanças climáticas.

Nas mais de 170 nações signatárias da Convenção já foram designados mais de 2.220 Sítios Ramsar em todo o planeta, cobrindo mais de 214 milhões de hectares. O Brasil desponta como o país com maior extensão de Sítios Ramsar do mundo, são 27 Sítios brasileiros que abrangem uma área total de 26 milhões de hectares.

Os números são conquistas fundamentais. No entanto, para garantir a efetividade da proteção das áreas úmidas é indispensável o estabelecimento de estratégias e ações voltadas à conservação desses Sítios. Um exemplo que se destaca neste contexto é a Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN Sesc Pantanal, uma iniciativa do Sistema CNC-Sesc-Senac que protege 108 mil hectares do bioma, localizada em Barão de Melgaço (MT).

Designada como Sítio Ramsar em 06 de dezembro de 2002, a RPPN Sesc Pantanal é reconhecida pelos resultados que tem alcançado ao longo dos seus 26 anos de existência, nos quais foram empreendidos esforços notáveis quanto à pesquisa científica, monitoramento ambiental, prevenção e combate aos incêndios e turismo, numa perspectiva integrada e colaborativa, com inúmeras parcerias. Este conjunto de frentes de ação asseguram a manutenção desta unidade como área natural protegida que incorpora o valor cultural da paisagem e promove a sensibilização de milhares de turistas que visitam a RPPN e vivem experiências memoráveis nesse ambiente.

A cada ano a Convenção de Ramsar propõe uma temática para estimular as reflexões e ações no Dia Mundial das Áreas Úmidas. Em 2023, com a temática “É hora de restaurar as áreas úmidas”, a data nos alerta que, até o momento, quase 90% das zonas úmidas do mundo foram degradadas ou perdidas. Segundo dados reunidos pela Convenção, estamos perdendo zonas úmidas três vezes mais rápido do que florestas. Assim, há uma urgência em aumentar a conscientização global sobre as zonas úmidas para conter e reverter sua rápida perda e incentivar ações para restaurar e conservar esses ecossistemas vitais.

Portanto, este 02 de fevereiro de 2023 é uma oportunidade perfeita para conhecer mais sobre esta iniciativa, apoiar ações que garantem sua proteção, tomar boas atitudes para colaborar com a conservação da natureza, repensando o consumo, a destinação dos resíduos gerados e adotando hábitos que promovam nossa reconexão com a natureza, para regenerar nossas relações e restaurar a vida.

*Cristina Cuiabália é bióloga, doutora em Ciência Ambiental e gerente geral do Polo Socioambiental Sesc Pantanal.



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