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Opinião
Segunda - 06 de Março de 2023 às 08:38
Por: ROSANA LEITE

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Absurdamente, tem crescido o movimento conhecido como “Red Pill”. Se perfaz em um nicho de homens que praticam a misoginia, ou seja, o ódio às mulheres, principalmente, com postagens nas redes sociais.

O termo é derivado do filme Matrix, conhecido por trazer conceitos de filosofia, tendo em vista o vasto conhecimento que o protagonista passa a se interessar, por conta dos seus sonhos. As verdades buscadas por todos e todas em vida começam a se descortinar, no famoso filme, tal como Platão plantou a semente, através do desejo em se adquirir conhecimento. Assim, são oferecidas duas pílulas: uma azul e outra vermelha. Ao fazer uso da azul ficaria vivendo na ilusão. Todavia, a vermelha traria consciência sobre a realidade à volta.

E assim vem surgindo os influenciadores “campari”, ou Red Pill. Adeptos tem surgido, e são aqueles que se opõem ao conceito de igualdade entre os gêneros, pois, segundo eles, os colocaria em desvantagem. Para esses homens, já que os grupos são formados apenas pelo gênero masculino, há necessidade de escolher muito bem as companheiras com quem se relacionar. Pregam que mulheres devem ser “colocadas em seus devidos lugares”, quais sejam: o da submissão, nunca ao lado dos homens, no ambiente doméstico, e deixando a respectiva vida para que os homens tomem conta.

Os “camparis” afirmam que todas as mulheres são manipuladoras e interesseiras. Afiançam que mulheres não devem ter “asas”, porquanto se assim o tiverem, irão ultrapassá-los em vantagens. Aliás, dizem que mulheres que desempenham o mesmo trabalho deles possuem “energia masculina”, com foco no labor e na capacidade de deliberar, se tornando perigosas. Garantem que está havendo inversão de valores, quando as mulheres alçam postos de poder, decisão e direcionamento.

Pelas mensagens desses tipos de grupos, há um grande movimento para que eles não se apaixonem por mulheres, vez que elas não possuem amor para oferecer, mas, sim, maldades. E, em caso de relacionamentos amorosos com mulheres, os homens devem as tratar de maneira rigorosa, como elas “merecem”.

O contrário desse tipo de pensamento, com homens que aceitam viver com mulheres que não se submetem aos mandamentos masculino, seriam os “blue pills”. Os blues estariam vivendo em ilusões, sendo usados por elas.

A misoginia é a repulsa, ou o ódio deliberado das mulheres. O seu significado advém do grego com a união de miseó, que tem o significado de ódio, em conjunto com gyné, mulher. A misoginia encontra seu “palco” no sexismo, que coloca a mulher na posição de total subalterna em relação a eles.

Por ser uma movimentação surgida com a velocidade da internet, vozes misóginas que se reconheceram de quatro anos para cá, se parecem muito com o desvalor das mulheres na Idade Média, quando elas foram chamadas de bruxas e condenadas à fogueira.

A desconfiança com a palavra das mulheres tem sido realidade, mesmo com muita resistência. Os Red Pills costumam afirmar que mulheres não religiosas não servem para se casar, já que não saberão edificar o lar.

É lamentável dizer que as mulheres não podem estar em ambientes que elas possam ter domínio, porquanto, os homens estariam enfraquecidos. A compreensão do que é o feminismo, perpassa pelo conceito de democracia, onde a igualdade deve fazer as vezes. Moldar comportamentos, desmerecer, tentar enfraquecer, e destratar... Será que essas são condutas a seguir? Garanto: essa nunca foi via escolhida por elas.

O direito a ter direitos, por elas e para elas, mais uma vez, é contestado. É sabido que essa está muito distante de ser uma crença pregada por todos os homens.

Enfatizo se cuidar de um pequeno grupo. Para que as mulheres não venham a passar por mais dissabores e crimes, é preciso parafrasear Angela Davis: “Não basta não ser machista, tem que ser antimachista”.

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.



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