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Opinião
Terça - 28 de Março de 2023 às 04:48
Por: Txai Suruí

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Quando eu me encontro com parentes sem suas terras originárias, sinto o colonialismo em seus pés. Quando o cheiro da Amazônia queimando invade meu dia, eu reconheço o colonialismo em meu nariz. Quando eu choro o assassinato dos meus companheiros defensores da floresta, eu vivencio o colonialismo em meus olhos.

Quando, mesmo discursando em uma das arenas mais estratégicas da governança mundial do clima (a COP), não somos ouvidos, grita o colonialismo no silêncio da plateia. E são esses diversos "sentir" que fazem o meu "pensar" se aliar às lutas contra o extrativismo ambiental, o avanço feroz do capital e a permanente queima colonial.

Nessa semana, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) lançou um novo relatório nos alertando sobre a urgência da crise planetária. Mais do que servir de mote para que nos mobilezemos enquanto sociedade, o relatório reconhece padrões de desigualdade e injustiça que para nós, povos indígenas, são conhecidos há muito tempo.


Chamo atenção para o fato de que, depois de 30 anos, é apenas a segunda vez que o termo "colonialismo" aparece no relatório do IPCC. A própria noção de "vulnerabilidade", utilizada com parcimônia, é desconcertante para muitas parcelas de ambientalistas. Incrementar e explicitar relações de ordem colonial no embate da crise climática é essencial para que evidenciemos dinâmicas que o mundo "moderno" e "livre" não quer enxergar.

Chamo atenção para o fato de que, depois de 30 anos, é apenas a segunda vez que o termo "colonialismo" aparece no relatório do IPCC

De acordo com o relatório, as pessoas e sistemas mais vulneráveis são desproporcionalmente afetados pelo impacto das mudanças climáticas em comparação à média global da população. O texto cita "padrões contínuos de desigualdade, como o colonialismo", ao especificar os agentes de uma situação que provoca diferentes efeitos devido às mudanças climáticas.

"Engana-se quem pensa que existe contradição entre expropriar por finito o Planeta ou salvá-lo no infinito: as duas ações emergem no campo do que podemos chamar de poder de soberania climática", argumenta Diosmar Filho, geógrafo e pesquisador da Associação de Pesquisa Iyaleta. Se, por um lado, o "passado" colonial deu início a um processo, ainda presente, de invasão e destruição, por outro, novas dinâmicas coloniais desafiam a relação entre países e os encontros entre culturas.

Para Gabriel Mantelli, advogado de direitos humanos, "o colonialismo climático traz desafios para os sistemas de justiça, fazendo com que mobilizações sociais desafiem o alcance e a efetividade dos instrumentos atualmente disponíveis para frear o aquecimento do planeta".

A luta pelo clima, portanto, é fundamentalmente política e nos convoca à descolonização.

Txai Suruí é coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia



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