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Opinião
Terça - 22 de Agosto de 2023 às 04:22
Por: Renato de Paiva Pereira

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Por volta dos anos 1600 surgiu na Europa um movimento intelectual que combatia o obscurantismo, as crendices e o poder ilimitado do Estado e da Igreja. Ficou conhecido como iluminismo e pregava que a verdade deveria ser buscada através da observação e da análise crítica em oposição aos dogmas, bruxarias e superstições.

Foi também um movimento de contestação ao clero, cujo poder vinha exatamente da ignorância das pessoas, por isso foi duramente combatido pela Igreja.

Criou-se uma expectativa de que libertos do jugo dos padres, das superstições e do sobrenatural, o povo passasse a crer somente na ciência, dando início a um período de valorização da razão e da lógica, consequentemente começando uma fase de progresso com a separação entre fé e racionalidade.

Entretanto, passados 400 anos, a despeito do progresso que a humanidade conseguiu, o obscurantismo resiste, manifestando-se vez ou outra de variadas formas.



Ainda entre os políticos há casos estranhos que mostram a necessidade urgente de um novo iluminismo

Um exemplo grotesco foi mostrado nesta semana pela imprensa Argentina. Por mais absurdo que pareça, o candidato Javier Milei dedicou a vitória nas primárias aos “seus filhos de quatro patas Conan, Murray, Milton, Robert e Lucas”. Até aí tudo bem, afinal os pets já alcançaram status de membros das famílias. Mas o pior é que o primeiro animal – Conan – pai dos outros quatro que o Milei chama de netos, após suposta morte teria se transformado em conselheiro espiritual do Milei. Ele (o cachorro), através de uma Médium, transmite suas mensagens ao provável futuro presidente dos Hermanos. O candidato está convencido, conforme diz sua “Biografia não Autorizada” de que foi incumbido da missão especial de governar seu povo e o Conan tem papel importante nessa tarefa.

Mas esta história de “missão divina” é mais comum do que pensamos. Nosso ex-presidente disse inúmeras vezes que Deus o incumbiu da tarefa de resgatar o povo brasileiro do comunismo. Só que o Criador parece ter se esquecido de dar-lhe, no segundo turno das eleições, os votos necessários para um segundo mandato.

Ainda entre os políticos há casos estranhos que mostram a necessidade urgente de um novo iluminismo. A ex-ministra (da educação, vejam só!) e agora Senadora da República, afirma que teve um encontro com Jesus em cima de uma goiabeira.

Tem mais: o Presidente da Venezuela – Nicolás Maduro – logo que assumiu o primeiro governo, garantia que o ex-presidente Hugo Chaves o visitava sob a forma de um passarinho que algumas vezes lhe fazia críticas ou dava broncas. Não sei se o passarinho ainda o aconselha como o Conan ao Milei, ou se levou uma estilingada de algum menino que não sabia que ele representava o Hugo Chaves.

Custo a crer que estes políticos realmente acreditam nessas histórias que inventam. Há, entretanto, duas possibilidades: uma, sim, eles acreditam. Nesse caso, seus níveis intelectuais remontam ao pré-iluminismo. Outra, não acreditam. Daí não é exagero chamá-los de criminosos manipuladores do povo, pois se esforçam para que as ideias iluministas que libertam da escuridão cognitiva não cheguem aos eleitores.

Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.



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