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Opinião
Sexta - 01 de Setembro de 2023 às 04:28
Por: Renato Gomes Nery

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Dentre tantas maldições de Eva, uma delas é o ciclo da concepção da vida: a menstruação. Entretanto, na série Alias Grace (Netflix), a personagem Mary, afirma: “Eu acho isto tolice, a verdadeira Maldição de Eva é Adão. Cuidado com os homens, principalmente, os cavalheiros, pois eles virão sempre com um anel, mas só aceite se o Padre vier junto”.

Esta afirmação feita na metade do no século XVIII, reflete ainda a precária condição feminina.

Tem origem bíblica o pecado e a culpa. Premissas estas que sustentam grandes teses a respaldar o cristianismo. Existe sempre um pecado e um pecador.

Existe sempre a culpa e um culpado, bem como existe alguém para redimir e perdoar. E fica tudo certo com uma pueril justificativa: pecado é retirado e o pecador perdoado.


Abrindo assim caminhos para novas culpas, novos culpados, pecados e pecadores. É a comprovação da existência do relativismo que possui discípulos em todos os cantos. Onde o é pode não ser. Onde a verdade pode não ser bem assim. Onde a mentira pode ser manipulada e até transformada em verdade. Enfim, justifica-se tudo, como se a verdade fosse uma marionete nas mãos do capeta.

Para convalidar a discriminação, os maus tratos e as mortes atribuem-se a culpa a Eva, por uma concepção simbólica/religiosa, por ter comido o fruto proibido e todas as mulheres estarem pagando o pato até hoje.

Pode-se justificar a perseguição milenar dos judeus por terem matado Cristo. Pode-se simplesmente discriminar pobres, por terem nascido com esse maldito estigma de não saber enriquecer. E de negros/índios simplesmente por serem diferentes e não pertencerem a uma raça pretensamente pura, com a outorga de discriminá-los e escravizá-los.

Enquanto isto perecem em mãos impuras as mulheres, simplesmente por serem mulheres, pois não há o que justifique a discriminação, os espancamentos, os maus tratos e a morte de tantas filhas de Eva, sem perdão e sem remissão.

No meio de tantas omissões que não vêm a público, invade-se impunemente o útero de tantas mulheres para se retirar filhos indesejados, e humilhá-las em subempregos com remunerações injustas e/ou simplesmente são liquidadas pela intolerância masculina, como tem noticiado a imprensa em dois casos de feminicídio com repercussão recentemente.

É preciso mais rigor e mais comprometimento da sociedade para estancar está barbárie, pois as mulheres não são inimigas dos homens e nem estes são seus donos, para se discriminar tanto, para se espancar tanto e para se matar tanto! Nada justifica a crueldade perpetrada diariamente contra o sexo que é responsável pela vida e pela continuidade da espécie.

Chega de estereótipos para se justificar o injustificável, pois não se pode continuar a pagar pelos pretensos pecados de Eva.

Entretanto, nem tudo estar perdido, o triunfo feminino foi perpetrado num dos territórios masculino: o futebol. As mulheres deram o testemunho da sua garra, competência e o seu talento, na beleza do espetáculo que foi a Copa do Mundo Feminina. Enfim, Eva deve estar orgulhosa das suas filhas.

Renato Gomes Nery é advogado.



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