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Repórter News - reporternews.com.br
Agronegócios
Sábado - 28 de Dezembro de 2013 às 21:43

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Tornar a monocultura de eucalipto um elo para conectar fragmentos nativos de mata e formar corredores ecológicos é o caminho encontrado pela indústria de celulose, papel e madeira para reverter a crença de que os plantios são como "desertos verdes". Novas práticas no campo abrem mão de resultados produtivos encarar o desafio. "No entorno das reservas não colhemos eucalipto de uma só vez para manter a estrutura da floresta alta, permitindo a circulação da fauna", explica Ana Paula Pulito Silva, consultora de gestão ambiental da Fibria. Outra estratégia para atrair a fauna é manter um sub-bosque de vegetação nativa entre as fileiras do plantio.


 
Nas terras da empresa no Espírito Santo, por exemplo, a iniciativa permitiu o acesso de antas a recantos dificilmente alcançáveis sem o eucalipto. "Os pedaços de mata natural que restaram na região, após a antiga ocupação por pastagens, não são suficientes para proteger a biodiversidade", argumenta a consultora, ao lembrar a importância de se descobrir que papel tem o eucalipto no planejamento da paisagem. "É claro que nessas áreas a diversidade das espécies nunca será exatamente como na floresta natural, onde a riqueza biológica é reconhecidamente maior."


 
Estudos comprovam que os plantios podem ajudar. O setor de celulose e papel é dono de 2,2 milhões de hectares de florestas plantadas para fins industriais e 2,9 milhões de hectares nativos que se destinam à conservação dos processos ecológicos, dentro do conceito de "mosaico florestal". Forças de mercado, como o selo socioambiental exigido por grandes compradores lá fora, obrigam o estabelecimento de áreas de alta prioridade para conservação e o monitoramento da fauna. No caso da Fibria, os resultados de campo são armazenados em banco de dados contendo 680 espécies de aves e 132 de mamíferos.


 
Há espécies menos exigentes que utilizam o eucalipto como área de vida. Enquanto em Capão Bonito (SP), as iniciativas focam a conservação do papagaio-verdadeiro, na região de Três Lagoas (MS), onde a empresa mantém cultivos no entorno de uma unidade industrial de celulose, os estudos se concentraram nas espécies de animais mais sensíveis, indicadoras de mudanças no ambiente. Detectou-se que o eucalipto abriga uma fauna de borboletas frutíferas tão rica e abundante quanto a existente na mata nativa de Cerrado, ao lado. O mesmo ocorre com morcegos e pequenos mamíferos. No Vale do Paraíba, em São Paulo, biólogos identificaram surpresas nos plantios de eucalipto cercados por Mata Atlântica, como o raríssimo cachorro-vinagre, espécie de alta exigência ecológica.


 
A conservação aumenta o fluxo de animais e exige medidas para integrar a população local e evitar a caça. No Sul da Bahia, o problema abrange o roubo de madeira para fazer carvão, o que exigiu da empresa ações para mudar o modo local de produção, gerar renda e reduzir a ilegalidade. No Programa de Desenvolvimento Rural Territorial, foram cadastrados 32 vilarejos para a cessão de 2,5 mil hectares em regime de comodato a pequenos produtores cooperativados, no entorno do eucalipto.


 
Em lugar do carvão, a agroecologia tornou-se a principal aposta. Como resultado, o volume de madeira roubada diminuiu de 300 mil para 28 mil metros cúbicos ao ano. No município de Alcobaça, o povoado Sombra da Tarde mudou de nome para apagar a fama do passado. "Temos vergonha daquele ambiente de violência", revela o morador Edson Jesus, mateiro que apanhava lenha em troca de um percentual da venda para comprar comida.


 
Na vizinhança do eucalipto, ex-caçadores são hoje vigilantes e guias em atividades de educação ambiental. "Eles têm sido fundamentais para a regeneração da floresta que atraiu a fauna de volta", diz Paulo Groke, diretor de meio ambiente do Instituto Ecofuturo, braço socioambiental da Suzano, fabricante de celulose e papel.


 
No município de Mogi das Cruzes (SP), a empresa adquiriu antigos plantios de eucalipto que substituíram a Mata Atlântica para abastecer siderúrgicas, iniciou a produção com a lógica da conservação e transformou 6,1 mil hectares em reserva ecológica - o Parque das Neblinas. Em dez anos, 5 milhões de sementes foram dispersadas na área para a regeneração da mata, incluindo o palmito-jussara, espécie de palmeira que quase foi dizimada pelo corte ilegal, juntamente com animais, como o jacu, que dela se alimentam.


 
"A palmeira começou a sumir, foi preciso ir cada vez mais distante para cortá-la e os perigos na mata acabaram não compensando", conta Marcos Prado, ex-cortador de palmito que hoje se dedica a orientar produtores locais a explorar os frutos para fazer polpa, deixando a árvore em pé. Já o guarda-parque Alexandre de Lima, o Xandó, era caçador, uma tradição antiga, transmitida de pai para filho.


 
Após a regeneração da floresta, grupos de muriquis - primatas em perigo de extinção - foram pela primeira vez identificados no parque. Agora há um trabalho voltado para felinos de grande porte.





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