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Sexta - 12 de Novembro de 2010 às 07:19
Por: Amanda Alves

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A queda de uma ponte centenária na zona rural de Cuiabá, sobre Rio Bandeira, prejudica diretamente 800 famílias. São 650 que moram no Condomínio Porto Bandeirantes e estão há 20 dias sem acesso para a área urbana da Capital. O trajeto rotineiro para estudos e trabalho da população agora só por meio de canoa, cedida por um morador. Do outro lado do rio, na comunidade de Tarumã, outras 150 famílias também sofrem com a queda da ponte, que era a melhor opção para ter acesso ao Distrito de Guia. Para complicar a situação, não há previsão de obras.

Acesso à escola, posto de saúde, igreja e mercado somente pelas águas do rio. E, desde que a ponte caiu, o servente de pedreiro, Hudson Alves de Brito, 28, tem emprestado sua canoa de fibra, remo e tempo para carregar crianças e adultos que necessitam ir até a Capital. "Tem muita gente que trabalha na cidade. Minha sobrinha estuda, meu irmão é serigrafista e precisa ir todos os dias".

De manhã, Hudson leva 30 crianças e adolescentes para o outro lado do rio. À tarde, são mais 20. São cerca de 8 viagens em cada horário. "Tem um rapaz que tentou atravessar pela ponte, mas caiu para o outro lado", diz o canoeiro, que ainda auxilia os trabalhadores durante as manhãs e finais de tarde, que dependem de ônibus para ir trabalhar. Com a queda, as linhas foram interrompidas de seguir viagem até o distrito de Guia e vice-versa.

Prejuízo - Os 2 irmãos de Hudson também são passageiros que dependem do trajeto para sobreviver. Renato Alves de Brito, 32, trabalha como serigrafista na chácara e precisa, pelo menos 3 vezes por dia, atravessar o rio Bandeira. "Não posso retornar até o distrito de Guia para depois ir para Cuiabá a cada viagem. São 45 quilômetros de cada vez. Assim não ganho nada".

Para ter sucesso na nova rotina, Cleiber Alves de Brito o ajuda com o carregamento das 800 camisetas prontas que leva para vender em Cuiabá. Após chegar à margem, caminha mais 300 metros para apanhar o carro e seguir viagem.

Previsão - "Faz tempo que eu estava prevendo isso. Dias antes eu estava debaixo do rio, indo para o Rio Cuiabá pescar e vi a fuligem do aço caindo", lembra a dona de casa Isabel Alves de Brito.

A passagem frequente de um caminhão trucado por cima da ponte, que tem a estrutura construída em aço e as cabeceiras de pedra bruta há cerca de 130 anos, contribuiu para a queda, dizem os moradores.

O carregamento era de areia e saía sempre do Condomínio em direção a uma empresa na Capital. No dia da queda, Isabel disse que estava no quintal de casa quando viu o veículo passando em alta velocidade. A cabine ficou pendurada, enquanto a carroceria não conseguiu passar e caiu no rio, juntamente com o carregamento. Por 2 dias o veículo ficou caído até que um guincho contratado pela empresa retirou. A população agora tem receio de assoreamento. "Nós estávamos preparando uma manifestação para impedir a passagem do caminhão, quando aconteceu", relata Isabel.

O motorista, segundo ela, havia sido avisado, mas não deu atenção ao assunto.

Para Rosyane Martins Almeida, 28, proprietária da primeira chácara após atravessar o rio Bandeira, a queda sem registro de acidente humano foi um milagre. "Acho que foi a mão de Deus mesmo, porque sempre tem gente debaixo da ponte tomando banho ou indo pescar".

Divisor de águas - Morando no Condomínio Porto Bandeirantes há 5 anos, Rosyane espera por uma solução para incrementar sua carreira de costureira. Após terminar o ensino médio, planeja cursar o designer de moda em Cuiabá, mas a ponte caída lhe desanimou. "Já estava achando difícil por causa dos horários de ônibus quando tinha a ponte. Com ela caída fiquei pensando em largar". O curso iniciaria neste mês.

Rosyane confessa que tinha medo da ponte desde que foi morar na comunidade. "Eu já tinha medo, por causa da altura. Eu chorava em passar sozinha na beirada, o difícil é atravessar".

Hoje, tendo que fazer o trajeto de canoa para ir até o mercado na Comunidade Sucuri, a costureira diz que se sente um pouco mais confortável pois sabe nadar. No entanto, Rosyane diz que espera a ponte em pé de novo. "Aqui todos ficam prejudicados, pois a maioria das pessoas trabalha em Cuiabá".

Reforço - Hudson defende que o certo seria construir uma ponte de cimento semelhante a do Porto. Ela poderia ser ao lado do local onde existia a ponte centenária de aço para não acabar com o Patrimônio Histórico. A ponte do Distrito da Guia, construída na mesma época, como a do Coxipó, hoje viraram pontos turísticos e por onde só passa pedestre.

O que Hudson não quer é que a ponte do Rio Bandeira se torne o que hoje se vê no Coxipó do Ouro. A estrutura se tornou destroços no rio Coxipó, desde que caiu há 8 anos. Ao lado construíram uma de cimento.

História - Na década de 90 a Ponte da Bandeira teve a estrutura de madeira queimada e demorou 8 meses para ser reformada. Ela foi planejada e feita com material alemão e foi importante para dar acesso ao Distrito de Guia, Baú, Acorizal e Aguaçu.

Outro lado - A Secretaria de Infraestutura de Cuiabá informou não ter mais orçamento este ano para recuperação da ponte do Rio Bandeira e confirma que ficará a cargo do governo estadual a construção de uma nova ponte. O secretário-adjunto Quidalguro Fonseca defende que obra não precisará ser semelhante à estrutura antiga, pois nenhuma lei obriga isso.

A licitação do asfaltamento da rodovia MT-400, que está para ser aberta, deverá contemplar a obra. O Rio Bandeira está ao longo desta via. Ontem, fiscais estiveram medindo a distância entre as margens que é de 25 metros.





Fonte: A Gazeta

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