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Cidades/Geral
Quinta - 31 de Janeiro de 2013 às 17:29
Por: Vitor Matos

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O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse nesta quinta-feira (31) que 71 feridos após o incêndio na boate de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, estão internados em UTI em estado "crítico" e "correm risco de óbito". Segundo o ministro, o número de mortos permanece em 235: 234 no dia do incidente e um paciente internado que morreu dias depois.

"São 127 os internados hoje em Santa Maria, Porto Alegre, Ijuí e Caxias. Dos 127, 71 estão em estado crítico, na UTI. Correm risco de óbito. Antes eram 75, mas quatro evoluíram bem. [...] Mantemos o alerta para os jovens que estiveram no local e tiveram tosse, que procurem o serviço de saúde", disse o ministro. De acordo com Padilha, não há previsão de alta da UTI para os pacientes em estado grave.
 

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (Foto: Valter Campanato / Agência Brasil)
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (Foto:
Valter Campanato / Agência Brasil)

Padilha lembrou que quem não se feriu no local ainda corre o risco de pneumonia química, por inalação de toxinas. "A possibilidade [de efeitos no pulmão após o incêndio] reduz ao longo dos dias. Reduziu muito, nas últimas 24 horas, o número de pessoas que procuraram o serviço de saúde, mas mantemos o alerta."

O ministro, que conversou com jornalistas após uma conferência com médicos e autoridades do Rio Grande do Sul, afirmou ainda que dos 71 em estado grave, 20 são "grandes queimados", com queimaduras graves, e 51 apresentam problemas pulmonares. A maioria dos internados em estado grave estão em Porto Alegre.

"Eu diria que estamos, numa situação como essa, avaliando permanentemente [os desdobramentos da tragédia]. Nesta primeira etapa conseguimos todas as ações necessárias para salvar vidas. Tudo o que for necessário para salvar vidas, nós faremos. O que não estiver ao alcance do Brasil, vamos buscar em outros países. Recebi solidariedade de ministros do mundo todo", afirmou Padilha.

O ministro da Saúde informou que os pacientes com problemas pulmonares receberão auxílio de especialistas do Canadá. Nos casos mais graves, eles auxiliarão os médicos brasileiros na na aplicação de uma técnica de ventilação que permite uma recuperação pulmonar mais rápida. Conforme Padilha, há médicos brasileiros capacitados nessa técnica, mas a Universidade de Toronto é referência. A equipe do Canadá chega neste sábado (2) ao Rio Grande do Sul, informou o ministro.

 

Em relação aos 20 com queimaduras, Padilha disse que doações de pele recebidas de outros estados foram suficientes. "Desde o começo, o ministério moblizou os principais bancos de pele no Brasil, que até agora atendeu a demanda", frisou o ministro, completando que o país recebeu pele de Argentina e Chile, ainda não utilizada. Segundo ele, Peru e Cuba também ofereceram ajuda para o banco de pele.

Além disso, disse Alexandre Padilha, outros profissionais do Canadá e também dos Estados Unidos e Argentina integrarão o gabinete de crise instalado em Santa Maria para coordenar o atendimentos aos feridos e familiares. "O ministério vai fazer videoconferência diária com especialistas, inclusive estrangeiros [sobre a situação na cidade]", completou o ministro.

Ele disse que o gabinete deve funcionar pelo menos até o dia 18 de fevereiro, quando será reavaliado se há necessidade de permanência no local. Conforme Padilha, a presidente Dilma Rousseff acompanha os trabalhos no local.

Pessoas já atendidas
Segundo o ministro, 577 atendimentos foram feitos em Santa Maria desde o domingo (27), dia da tragédia. Destes, 374 pacientes tiveram alta. Entre os demais, parte está internada e parte acabou sendo transferida para cidades da região metropolitana.

Alexandre Padilha lembrou que não há falta de sangue em Santa Maria, mas que é importante a doação de sangue. "Em nenhum momento o estoque de sangue foi comprometido. Mas quem quiser doar sangue, é sempre importante. Pode ser na sua cidade, não precisa ir a Santa Maria", destacou.

Causas da tragédia
Quatro dias após o incêndio na boate Kiss, de acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas até o momento por investigadores, é possível afirmar que:

- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso.
- Era comum a utilização de fogos pelo grupo.
- A banda comprou um sinalizador proibido.
- O extintor de incêndio não funcionou.
- Havia mais público do que a capacidade.
- A boate tinha apenas um acesso para a rua.
- O alvará fornecido pelos Bombeiros estava vencido.
- Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros.
- 90% das vítimas fatais tiveram asfixia mecânica.
- Equipamentos de gravação estavam no conserto.

 

Prisões
Quatro pessoas foram presas na segunda por conta do incêndio: o dono da boate, Elissandro Calegaro Spohr; o sócio, Mauro Hofffmann; o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos; e um funcionário do grupo, Luciano Augusto Bonilha Leão, responsável pela segurança e outros serviços.

Investigação
O delegado Marcos Vianna, responsável pelo inquérito do incêndio na boate Kiss, disse ao G1 na terça-feira (29) que uma soma de quatro fatores contribuiu para a tragédia ter acabado com tantos mortos: 1) o fato de a boate ter só uma saída e a porta ser de tamanho reduzido; 2) o uso de um artefato sinalizador em um local fechado; 3) o excesso de pessoas no local; e 4) a espuma usada no revestimento, que pode não ter sido a mais indicada e ter influenciado na formação de gás tóxico.

O delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, afirmou também na terça que a Polícia Civil tem "diversos indicativos" de que a boate estava irregular e não podia estar funcionando. "Se a boate estivesse regular, não teria havido quase 240 mortes", disse em entrevista. "Mas isso ainda é preliminar e precisa ser corroborado pelos depoimentos das testemunhas e os laudos periciais", completou.

 

Arigony disse ainda que a banda Gurizada Fandangueira utilizou um sinalizador mais barato, próprio para ambientes abertos e que não deveria ser usado durante show em local fechado. "O sinalizador para ambiente aberto custava R$ 2,50 a unidade e, para ambiente fechado, R$ 70. Eles sabiam disso, usaram este modelo para economizar. Usaram o equipamento para ambiente aberto porque era mais barato”, disse o delegado.

O vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos, admitiu em seu depoimento à Polícia Civil que segurou um sinalizador aceso durante o show, de acordo com o promotor criminal Joel Oliveira Dutra. O músico disse, no entanto, que não acredita que as faíscas do artefato tenham provocado o incêndio. Ele afirmou que já havia manipulado esse tipo de artefato por diversas vezes em outras apresentações.

Responsabilidades
A boate Kiss desrespeitou pelo menos dois artigos de leis estadual e municipal no que diz respeito ao plano de prevenção contra incêndio. Tanto a legislação do Rio Grande do Sul quanto a de Santa Maria listam exigências não cumpridas pela casa noturna, como a instalação de uma segunda porta, de emergência. A boate situada na Rua dos Andradas tinha apenas uma, por onde o público entrava e saía. Outra medida que não foi cumprida na estrutura da boate diz respeito ao tipo de revestimento utilizado como isolamento acústico.

A Brigada Militar informou nesta quarta que a boate não estava em desacordo com normas de prevenção contra incêndios em relação ao número de saídas. Segundo interpretação da lei, o local atendia as normas ao possuir duas saídas no salão principal. Mas as portas, no entanto, não davam para a rua, e sim para um hall. Este sim dava para a rua através de uma só porta. "Foi um ato possível que o engenheiro conseguiu colocar", disse o tenente coronel Adriano Krukoski, comandante do Corpo de Bombeiros de Porto Alegre.

Jader Marques, advogado de Elissandro Spohr, um dos sócios da boate, disse que a casa noturna estava em "plenas condições" de receber a festa. Ele falou sobre documentação da casa, segurança, lotação, e disse que a banda Gurizada Fandangueira não avisou que usaria sinalizadores naquela noite. O advogado ainda afirmou que o Ministério Público vistoriou o local "diversas vezes".

A Prefeitura de Santa Maria se eximiu de responsabilidade pelo incêndio e entregou alvará para a polícia que mostra data de validade de inspeção para prevenção de incêndio, feita pelo Corpo de Bombeiros. A prefeitura afirma que a sua responsabilidade era apenas sobre o alvará de localização, que é válido com a vistoria do ano corrente. O documento informa que a vistoria foi feita em 19 de abril de 2012.

O chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros, major Gerson Pereira, disse na quarta que a casa noturna tinha todas as exigências estabelecidas pela lei vigente no Brasil. "Quem falhou, que assuma a sua responsabilidade. Nós fizemos tudo o que estava ao nosso alcance e não vou entrar em jogo de empurra-empurra", afirmou.

O Ministério Público do Rio Grande do Sul abriu um inquérito civil na terça para investigar a possibilidade de improbidade administrativa por parte de integrantes da Prefeitura de Santa Maria, do Corpo de Bombeiros e de outros órgãos públicos por terem permitido que a boate Kiss continuasse funcionando mesmo com as licenças de operação e sanitária vencidas.
 

Infográfico: tragédia de Santa Maria - 29/01 (Foto: Editoria de Arte/G1)





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