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Cidades/Geral
Sábado - 19 de Janeiro de 2013 às 09:00
Por: Marcelo Guedes

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A falta de humanização por parte dos médicos que atendem a rede pública de saúde em Juína, cidade do noroeste de Mato Grosso,  tem causado muita dor e sofrimento nas famílias de doentes que precisaram do atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo informações, os médicos que atendem o sistema público na cidade  não ganham mal. Na verdade,  o valor é alto e pode chegar a casa dos R$ 20 mil mensal com suas horas extras. Mas, o drama das pessoas é grande. Um dos casos envolve uma mulher, de 59 anos, que morreu após muitas idas e vindas, vai e vem e jogo de empurra. Quando conseguiu enfim o atendimento, morreu.
 
A mulher sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e procurou imediatamente um acompanhamento médico. Porém por conta dos "procedimentos", a senhora não foi encaminhada diretamente para o Hospital Municipal. Vejam só, trata-se de um AVC, ou derrame, como é popularmente conhecido, caracterizado pela perda rápida de função neurológica, decorrente do entupimento (isquemia) ou rompimento (hemorragia) de vasos sanguíneos cerebrais. No caso da paciente  foi isquêmico, quando falta sangue no cérebro.

 É uma doença de início súbito na qual o paciente pode apresentar paralisação ou dificuldade de movimentação dos membros de um mesmo lado do corpo, dificuldade na fala ou articulação das palavras e déficit visual súbito de uma parte do campo visual. Pode ainda evoluir com coma e outros sinais.

 Trata-se de uma "emergência médica" que pode evoluir com sequelas ou morte, sendo a rápida chegada no hospital importante para a decisão terapêutica. Mas não foi isso o que aconteceu com a senhora;  o atendimento demorou para chegar até ela, sem contar a falta de amor e humanização por parte de médicos da UPA de Juína, que não forneciam nenhuma informação do estado clínico à família, que estava bastante abalada.

 Foi necessário acionar as autoridades municipais, e somente ao lado de uma delas o médico em questão resolveu falar: "Ela teve um AVC e precisa ser internada imediatamente!". Só que esse segundo AVC, acometido dentro da UPA de Juína, poderia ter sido evitado se a paciente tivesse recebido os atendimentos necessários. A tal observação ao qual foi submetida só foi mesmo assistida pela família, que se desesperava a cada piora da paciente, onde tinha que sair correndo atrás de médicos e enfermeiros, que diziam apenas "que isso era normal". Normal para eles, pois para a paciente o caso era de urgência e precisava de cuidados especiais.

 Mais uma vez foi uma luta conseguir removê-la para o hospital municipal. A falta de ambulância, que na verdade foi apenas uma desculpa para a morosidade do sistema e dos servidores, agravava a situação da paciente que só piorava. Tiveram novamente que acionar as autoridades para conseguir transferi-la para a internação, o que ocorreu após muita luta e sofrimento.

 Mas isso era só o começo, o pior estava por vir, já que no hospital municipal os pacientes são alojados em quartos em péssimas condições onde até mesmo baratas e insetos são vistos rastejando pelo chão. O descaso por parte de médicos mais uma vez apunhalou a família, já que após percorrer 400 km por estradas cheias de buracos para fazer uma tomografia em Juara, o que não é possível na cidade polo de Juína, os exames da paciente só foram vistos pelo médico mais de 16 horas depois dela retornar, o que nessa altura, seu estado clínico era muito mal.

 A família, na esperança de ver sua mãe ter uma chance de sobreviver, buscou alternativas para removê-la para Cuiabá, porém foram incentivados a deixarem-na no municipal mesmo, já que uma UTI estava garantida para ela caso necessitasse. Uma promessa vazia que derrubou toda e qualquer reação da família, pois ao realmente precisar de um leito na UTI, a burocracia e a demora imperou.

 "É preciso esperar uma liberação de Cuiabá para transferi-la para a UTI", disseram à família. Isso era por volta das 08h desta quarta-feira, 16 de janeiro. Mas a paciente só piorava e chegava a vomitar sangue. A resposta de Cuiabá não vinha, foi onde a família procurou o Ministério Público, que acionou a Secretária de Saúde, que só então ficou sabendo do caso e descobriu que os 10 leitos de UTI existentes em Juína estavam todos lotados.

 "Como podem estar lotados? Fomos informados que ela tinha garantido um leito de UTI quando precisasse, e agora ela precisa mais do que nunca" - desabafou um familiar que preferiu não se identificar. Devido a gravidade do caso, os diretores da UTI conseguiram um "quarto extra" para a paciente, que só foi transferida por volta das 18h de quarta-feira.

 Após permanecer o dia inteiro as mínguas com todo aquele sofrimento, a paciente deu entrada na UTI praticamente morta. Os médicos disseram ter estabilizado o estado clínico dela e que agora era só esperar, mas ali ela receberia todo o atendimento e carinho que necessitava. E realmente recebeu, mas tarde demais. Os remédios aplicados nela não fizeram efeito e um terceiro AVC ocorreu, vindo a paciente a óbito por volta das 23h30 de quarta-feira.

 A demora no atendimento na UPA e a transferência para o Hospital Municipal, a falta de informação e interesse dos médicos em ajudar, as promessas vazias na tentativa de levar em "banho maria" a família e por fim, a morosidade do sistema público de saúde "matou" mais uma cidadã juinense, uma mulher querida e muito guerreira, a âncora e matriarca da família, ao qual fará muita falta a todos que a conheciam e que sentiam um forte carinho por ela, a todos aqueles que a fizeram de mãezona em momento difíceis.

 De tudo, constatou-se o óbvio: quem não tem dinheiro para procurar o sistema particular, ficará a mercê de um sistema quebrado e falido, composto por alguns profissionais  desinteressados, que só se nteressam pelos seus próprios negócios. E a sociedade questiona:  "Até quando mais pessoas precisarão morrer para que o sistema funcione? Quantas famílias mais precisarão sofrer e perder seus entes queridos por conta da desumanização de servidores? Até quando as autoridades verão isso e ficarão sem tomar providências? Até quando a sociedade ficará calada sem reagir, sem protestar, sem brigar pela vida de pessoas inocentes que vão embora deixando um vazio imenso?".

 E há outros casos parecidos ao da paciente. Trata-se de um senhor de idade que também não recebeu os atendimentos urgentes para conter um AVC e precisou nessa quinta-feira, enquanto a outra família velava sua genitora, de uma UTI, mas graças a muito esforço conseguiu uma vaga e reage bem.






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