Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Segunda - 19 de Setembro de 2011 às 03:43
Por: Lucas Bólico

    Imprimir


Em quase 40 minutos de conversa, Indalécio Gomes Silva, 43 anos, só tirou o sorriso do rosto durante um instante. Ele lembrava que não teve um filho varão e as suas duas meninas não têm talento e nem vontade de trabalhar com a madeira, ofício que começou a aprender com o pai ainda na infância, antes de sair de casa.

O desânimo não dura mais de 10 segundos. “Mas eu ainda posso ter um neto e, mesmo velhinho, posso ensinar ele a mexer com madeira”, diz.

É sempre com esse olhar otimista que um dos últimos marceneiros e restauradores de Cuiabá encara a vida. E antes que haja controvérsia, ele explica: “restauração é diferente de reforma”. Silva restaura móveis antigos e históricos. “Não é só dar brilho”, diz, “é um trabalho mais cuidadoso, reforma é superficial”, finaliza.

Ao restaurar, o marceneiro diz que respeita a história do móvel, como as marcas do tempo. É um trabalho “arriscado”, pois alguns móveis antigos são quase que membros das famílias e nada pode dar errado.

“Uma vez, eu restaurei um porta-louça de um casal e na hora de entregar, a mulher começou a chorar e eu até pensei que tinha estragado”, relembra. As lágrimas eram, na verdade, de emoção. Aquela peça havia sido dada a então noiva como presente de casamento, 50 anos antes. “Até eu me emocionei ao ver o casal chorando”, admite. “Mas não deixei eles perceberem, entrei logo no caminhão e voltei”.

E nem só de reforma vive Indalécio e a esposa, Rosenei Camargo, que aprendeu o ofício graças ao marido. “Pode trazer uma foto de qualquer móvel que a gente faz, garante ela. Outra função do casal é socorrer clientes que tiveram os móveis estragados por outros profissionais. “As vezes uma pessoa vem aqui e quando eu falo o preço, ela diz que é caro e vai embora. Depois ela volta com o móvel todo estragado e eu arrumo”, conta ele.

“O cliente não entende o valor que eu cobro, mas é um processo muito trabalhoso”, diz, explicando uma das maiores dificuldades da profissão, competir com quem faz um trabalho inferior e a um preço muito baixo. Mas ainda não é o problema financeiro que tira o sorriso de Indalécio.

Ele começou a aprender a profissão com seis anos de idade com o pai. Aos 12, saiu de casa após a separação dos pais e começou a trabalhar em marcenarias como aprendiz, ganhando apenas comida e abrigo. Aos 19 já tinha sua própria marcenaria. “Já passei um final de ano com apenas R$ 15,00 para alimentar minha esposa e duas filhas”, relembra com orgulho.

A profissão parece estar no fim. Ele já admite a ideia de se aposentar. Mas quem quiser contratar os serviços de Indalécio, pode entrar em contato pelo telefone (65) 8119-3422 ou (65) 9259-0098. A Marcenaria Madeira Velha fica na Marechal Deodoro, número 1975, Centro Norte, Cuiabá.






Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/75745/visualizar/