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Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Quarta - 31 de Agosto de 2011 às 10:00

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Laércio Guidio

Em meio à poeira das ruas de terra de Alto Paraguai, Izaumir Almeida Lima carregou o corpo de sua filha que morreu por omissão de socorro do enfermeiro e do técnico de enfermagem plantonistas no PSF I “João Alves de Souza”. O cortejo sintetizou a simplicidade da família, seguido de três motos, o caixão da criança, ainda sem nome, passou refletindo o descaso com a Saúde em Alto Paraguai.

No cemitério, um amigo do pai da criança cavava a cova, sem receber nenhum centavo pelo ofício revelou que fazia por apreço ao pai enlutado. Enquanto golpeava a terra seca, o coveiro improvisado, disse que já fez outras sepulturas antes e até batizou para não enterrar pagãos.

Izaumir desconsolado chorava pela perda de sua filha, e narrava à cena da morte.

“Minha esposa sentiu dor às duas horas da manhã (segunda-feira 29), fomos ao PSF, não nos atenderam, disseram que eu tinha que arrumar um carro. Minha mulher [ficou] na janela grudada segurando com muita dor e o enfermeiro assistindo filme enquanto isso”, descreveu.

No local que serviria para promover Saúde, tinha um aparelho telefônico cortado, um celular quebrado e outro sem créditos, narrou Izaumir. Quanto à ambulância, ele mencionou que estava na frente do PSF, mas não tinha motorista.

O único ato do enfermeiro, segundo o pai da criança falecida, foi dizer que a família havia que conseguir um carro.

“Não quero que ninguém passe essa dor. Implorei por ajuda, o enfermeiro zangou comigo, disse que eu tive nove meses para preparar um carro. Quando minha mulher pedia ajuda eles ficavam rindo, não sei se era do filme ou da minha mulher”, desabafou.

A Polícia Militar foi procurada por Izaumir, com apoio da cabo Paulina e do soldado Everton, começou surgir uma solução para o pesadelo da família, apareceu o motorista da ambulância, mas mesmo assim já era tarde e não foi possível evitar a morte da criança.

O boletim de ocorrência relata no histórico o posicionamento do enfermeiro Carlos Pereira Martins e do técnico de enfermagem Rivair da Silva. “O Sr. Izaumir deveria ter se programado, não tinha como atendê-lo, pois a ambulância era para ser utilizada somente em caso de emergência”.

O enfermeiro Carlos Pereira Martins não “diagnosticou” como emergência a morte lenta e cruel da filha de Izaumir dentro da barriga da mãe. Anália Regina da Costa sentiu dores cruéis, que não foram as dores do parto, mas de uma morte interna por falta de socorro. Suas dores e seus gritos não configuraram emergência.

Ao invés de empurrar o carrinho do bebê, o pai carregou o caixão de sua filha até a cova criada por seu amigo.

Uma morte que poderia ser evitada, se o enfermeiro diagnosticasse emergência e chamasse o motorista da ambulância em tempo hábil. Lamentavelmente o único motorista pontual, foi o da funerária.

A menina foi enterrada sem nome, num sepultamento simples, levada até o fundo da cova pelas mãos do próprio pai, acompanhado do olhar triste e desolado do irmão de cinco anos.






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