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Opinião
Quarta - 14 de Julho de 2010 às 14:06
Por: Thiago Luiz Vincoletto

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Os fundos de pensão respondem hoje por um terço das ações em Bolsa de Valores movimentadas no mundo. No Brasil, detêm 17% do PIB nacional. São, portanto, um motor importante da economia.

Essa representatividade, cada vez mais forte, acarreta também responsabilidades e cobranças crescentes. E uma das questões mais importantes que se colocam agora diz respeito à sustentabilidade das empresas que recebem investimentos dos mencionados fundos. O Fundo Global do Governo da Noruega, um dos maiores do mundo, sofreu tamanha pressão da sociedade no tocante a essa questão que se viu forçado a impor, aos empreendimentos nas quais investe, uma série de exigências de enquadramento em padrões sociais e ambientais. O fundo estatal de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, instalado em um país onde os ativos se concentram majoritariamente em ações de petróleo e gás, resolveu apostar no projeto de uma cidade "verde", destinando quase três bilhões de dólares à sua construção.

A tendência mundial já se faz sentir na nação verde-amarela. O fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil – PREVI (maior fundo de pensão do país), já anunciou que o objetivo é não ter participação em companhias dos ramos de tabaco e armamentos. Por outro lado, uma empresa que tenha participação no Índice de Sustentabilidade da Bovespa (ISE), ou um projeto desenhado de modo a proporcionar benefícios ambientais e gerar créditos de carbono, têm boas chances de atrair os investimentos da instituição.

Um exemplo contundente da atenção à sustentabilidade por parte dos fundos de pensão pôde ser observado no primeiro semestre deste ano, por ocasião da formação dos consórcios que disputariam o direito de construir a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (Pará). Na época, tanto o Previ quanto o Petros (funcionários da Petrobras) e o Funcef (funcionários da Caixa Econômica Federal) demonstraram forte preocupação com a sustentabilidade do projeto antes de aceitarem entrar na concorrência.

Verdadeiros gigantes no universo brasileiro dos fundos de pensão, as três instituições são signatárias do Programa de Princípios para Investimentos (PRI), lançado pelas Nações Unidas como guia para investimentos sustentáveis, e contam com o selo Carbon Disclosure Project, que tem por objetivo identificar as empresas e instituições que combatem as emissões de carbono mundiais. Além disso, o Previ, que responde sozinho por aproximadamente 5% do mercado de ações brasileiro, tem assento no conselho da PRI.

Especialistas estimam que, cada vez mais, os fundos de pensão do Brasil e do mundo tendem a reduzir os percentuais investidos em empresas cujas atividades sejam necessariamente impactantes, tais como as indústrias siderúrgica, petroquímica e de mineração. E aquelas que continuarem a receber apoio financeiro terão de obedecer a padrões socioambientais cada vez mais rígidos, mantendo absoluta transparência em suas demonstrações. A publicação de relatórios de sustentabilidade, por exemplo, é uma prática que vem ganhando relevância no mundo todo.

Percebe-se ainda que os fundos de pensão estão cada vez mais comprometidos com o futuro e evoluindo neste quesito no Brasil. E não se trata apenas de garantir aos seus participantes uma aposentadoria tranquila, equilibrada atuarialmente e livre de sobressaltos financeiros. O que se vislumbra a partir de agora é um efetivo comprometimento com o dia depois do amanhã.


* Thiago Luiz Vincoletto
é responsável pela área atuarial da BDO.



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