Pose de mais, ciência de menos
Inicio este artigo adiantando que não aprecio o futebol da maneira como ele habitualmente é visto: como paixão. É um esporte que já foi mais significativo, antes de se tornar um negócio bilionário, estritamente comercial. Vejo jogos apenas na época de copas do mundo, com reduzido interesse.
Porém, reconheço que em 1958 aquela copa da Suécia, quando o Brasil foi campeão, fez o país conhecido pelo mundo. Daí por diante, a fama de bom futebol criou esse mito que morre um pouco a cada nova copa. Esta que a seleção brasileira acabou de perder na África do Sul, retrata muitas coisas que precisam ser analisadas. Uma delas, é que os jogadores são rapazes pobres com algum talento, transformados em celebridades para fabulosa máquina do marketing esportivo.
Ora, como querer que um grupo de rapazes pobres da periferia, enriquecidos e mimados através da mídia, compreendam o que significa representar as expectativas e emoções de 196 milhões de brasileiros? Não podem, se alguns mal e mal assinam o próprio nome! Erro dos brasileiros apostarem as suas emoções naquela simbólica camisa amarela. Na época da copa de 1958, o futebol era menos técnico e valiam os talentos pessoais. Foi o caso de Garrincha e de Pelé, dois talentos absolutamente individuais, com bom espírito de equipe. Nos anos seguintes ainda prevaleceu o espírito individual dentro de uma equipe. Mas de 1966 em diante acabou. Perdeu-se a noção de conjunto e a seleção brasileira de futebol ficou parecida com o Macunaíma, aquele brasileiro simbolizado por Mário de Andrade, como o herói sem caráter, cheio de gingado e sem responsabilidades.
Bom. Chegamos a 2010, o Brasil escolhido para sediar a copa do mundo de 2014, e a seleção brasileira de futebol foi à África do Sul, super bem aparelhada, bem apoiada, bem paga, etc.etc. Esqueceu-se apenas de levar duas coisas indispensáveis: bons jogadores e comprometimento. Deu no que deu. Mas ficou no ar uma série de boas reflexões. Uma delas, a de que o tempo do futebol da bolinha pra lá, bolinha pra cá, e de jogadores ricos hoje habituados a viver na Europa, pagos em euros, e na Ásia, pagos em dólares, acabou.
O Brasil precisa associar a sua imagem nacional a outros elementos mais permanentes e eficientes, como a sua competitividade industrial, comercial, de produtor competente de carnes e grãos, de dono de fantásticos recursos naturais, e de uma população forte e crescentemente evolutiva nesse mundo globalizado. Além do mais, existem outros esportes nobres onde o país ainda joga com a juventude esportiva e fiel, como o vôlei, o basquete, o tênis, a natação, etc. O Brasil do começo da segunda década do século 21 está anos-luz à frente do desconhecido Brasil que em 1958 jogou contra a Suécia, ou em 1970, dois momentos virtuosos.
Portanto, os valores são outros, o mundo é outro, e o futebol hoje tornou-se um patrimônio técnico mundial. O tempo de predomínio eventual brasileiro já se foi. Tempos novos, esportes novos, valores novos da sociedade e da economia nacionais diante do mundo globalizado. O esporte novo deve ter mais ciência, menos pose, e menos pobres rapazes ricos, mimados e midiáticos!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@terra.com.br
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