40 anos
Li uma notícia em uma coluna social das mais badaladas de Cuiabá, que "A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) lança, nesta quinta-feira, as comemorações de seus 40 anos de história. Na ocasião, haverá palestra do pesquisador italiano Massimo Canevacci, e apresentação do quinteto de metais da Orquestra Sinfônica da instituição. A contribuição da universidade, em todas as atividades humanas, é de valor incalculável para este Estado".
Nada mais justo que a nossa ex-Universidade da Selva traga da Europa tão ilustre personalidade para abrilhantar a abertura das homenagens da nossa querida agora UFMT - orgulho e arrimo do povo mato-grossense. Neste momento de retrospectiva histórica, em que os seus principais fundadores são apenas "saudades", a decisão dos responsáveis pelos eventos foi acertada. Merecem aplausos e demonstra à sociedade do nosso estado e à comunidade acadêmica a preocupação dos atuais dirigentes universitários em preservar o nosso passado.
É também uma forma elegante de desdizer o nosso maior historiador Estêvão de Mendonça, que cunhou a imortal frase: "Morre para sempre quem morre em Cuiabá". Pobre historiador! A maior casa de cultura, pesquisa e ensino do nosso estado modificou-a para: "Morre para sempre quem vive muito em Cuiabá".
Fico pensando na velhice dos três principais fundadores da ex-Universidade da Selva (Uniselva). Ainda bem que continuam jovens, porém alienados da história da UFMT. Mesmo assim lembro-me da aventura que foi erguer em pleno Cerrado uma universidade para o futuro, sem o ranço do passado. Três alunos da Escola Modelo Barão de Melgaço foram os predestinados para transformar o antigo estado curral, em estado de oportunidades. Eles construíram a universidade reconhecida internacionalmente e respeitada desde o seu nascimento. O modelo gerencial escolhido foi o colegiado, onde o mérito sempre foi a sua única moeda. Esses meninos contrariaram poderosos interesses de grupos. O compromisso deles sempre foi com o coletivo, especialmente com os pobres habitantes da periferia do poder. Não traíram as suas origens de pais sem nível médio e superior, mas cidadãos honrados e de Ficha Limpa. Conheci os pais desses meninos, todos casados com mulheres de lides domésticas. Um era dono de bar. Outro pequeno comerciante de poaia. E o terceiro modesto fabricante de ladrilhos. Todos tinham além da honradez, o compromisso de educar os seus filhos, enfrentando todo o tipo de dificuldades. Dois desses meninos que sempre estudaram em escolas públicas são advogados. Fizeram concurso público para o Ministério Público Estadual. Ambos passaram em 1º lugar. O outro é médico, formado também em escola pública. O grande papel histórico do médico foi o de "desencaminhar" os colegas de infância da Escola Modelo para a grande aventura - implantar uma universidade pública federal na sua cidade. Muitos colaboraram, a maioria de origem humilde, participando dessa epopéia. Não citarei nomes, pois a lista é enorme.
Na minha juventude do crepúsculo da vida o esquecimento faz parte do cenário. Compreensível para os que insistem em acrescentar "vida nos seus dias". Do céu poético onde vivo, estarei abraçado com os colegas do curso primário da Praça Ipiranga, comemorando em silêncio o majestoso evento de abertura da nossa utopia juvenil - os 40 anos da UFMT!
Gabriel Novis Neves é médico em Cuiabá
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