Política sem altruísmo é como um corpo sem alma.
Os grandes políticos idealistas...
Lendo o artigo do jornalista Onofre Ribeiro titulado “Queima de Arquivos”, refleti e identifiquei minha visão do panorama atual. “A política de Mato Grosso não tem projeto para Mato Grosso. Quando muito, projetos momentâneos de grupos de última hora, que duram, no máximo, uma eleição.” Os parâmetros disso não se limitam a Mato Grosso. Vejamos. O secretário-executivo do Ministério dos Esportes, Luis Manuel Rebelo Fernandes, afirmou em maio que as obras de mobilidade urbana para a Copa do Mundo de 2014 e para a Copa das Confederações de 2013 preocupam o governo. Estão atrasadas.
Uma notícia sobre o metrô de São Paulo foi publicada no The Economist, (semanal inglês) mostrando como estamos atrasados no transporte de massa. Fala, sob a ótica do visitante estrangeiro e que conhece outras grandes capitais de países pelo mundo, dos congestionamentos no trânsito. São Paulo possui 19 milhões de habitantes, entretanto conta somente com 71 quilômetros de metrô. A Cidade do México tem mais de 200 quilômetros, Seul cerca de 400 quilômetros e até Santiago do Chile, com um quarto da dimensão de São Paulo, tem um metrô 40% maior. Enquanto isso, as obras da linha lilás do metrô de São Paulo iniciaram com sete meses de atraso por conta de irregularidades.
A defasagem é grande, apesar dos discursos, inaugurações de obras posteriormente largadas, propagandas, mídias e papos furados. Penso que o tempo dos grandes políticos, dos grandes homens públicos, altruístas, visionários, não dura a vida toda. Não posso evitar as recordações das aulas do ginásio, onde aprendemos a admirar os abolicionistas desinteressados lutando pelo fim dos horrores da escravidão, abdicando das vantagens financeiras para si. Os sertanistas e capitães de bandeiras e entradas quando, ocultado pela busca das riquezas estava o idealismo arroteante que os permitiu fundar cidades a partir do nada. Pedro I poderia não ter enfrentado Portugal e tê-lo deixado retomar a colônia, anulando as benfeitorias e os progressos alcançados. Porém, por ser um idealista, enfrentou seus patrícios para elevar a colônia a império. Lembro JK e a construção de uma capital a partir do pó da terra e o crescimento do setor de transportes em seu governo em 600%, entre tantas outras realizações recordistas em seu governo conhecido historicamente como furacão.
As grandes realizações somente são viáveis quando há foco e objetivo único. Por suas grandes proporções exigem muito tempo, atenção e dinheiro. Quando estes são rachados com a lei de Gerson, quando o foco é dividido pelos interesses particulares de poder, visibilidade, locupletamento, então não há espaço para as grandes e históricas realizações. Faz-se o que dá com o que sobrou depois de todo o desvio de foco, objetivo, tempo, atenção e dinheiro. Assim, Sr. Onofre, “as lideranças mato-grossenses não são sustentáveis a longo prazo”, nem as daqui e nem as de lá do Brasil, posto que a cada grupo interessa louros e grana no bolso para si e não interessa colocar brasa na sardinha do grupo anterior ou do posterior. É onde o altruísmo morre e política sem altruísmo é como um corpo sem alma: sobra a parte ruim e delével. E quando “a população despolitizada e mansa aceita os discursos de ‘renovação’”, também não percebe que é uma conta sendo fechada para que outra seja aberta em seguida, pelo grupo sucessor. Passa a régua e fecha a comanda que a fila está andando.
Dilma afirma que obras de mobilidade urbana vão mudar a realidade do Rio. Pobre Dilma, já está atrasada, anos-luz atrasada. Para mudar a realidade do Rio falta comer muito arroz com feijão. E o cuiabano, que não tem engarrafamentos em seu DNA como o carioca ou o paulistano, enfrenta hoje a pior era de congestionamentos de trânsito conhecida nesta cidade. As obras da mobilidade urbana, todas atrasadas, exercem desastrosa influência na vida financeira, laboral e cronológica limitando a liberdade de ir. A de vir já nasce morta pois desistimos de sair de casa quando podemos. Recorrendo à memória de elefante, lembro a data da notícia Cuiabá – Sede da Copa do Mundo. Em 2007 o Brasil já era sede. Em 2009 Cuiabá já era sede. E as obras de mobilidade necessárias muito antes disso só foram paridas agora, a fórceps, já roxas e sem respiração. Todas de uma só vez, às pressas e passando por cima de todos os outros interesses. Não há mais tempo. Falando em tempo, se ainda fosse a era dos grandes políticos altruístas e idealistas, poucos seriam os arremates na cidade para receber jogos da Copa. Eles, com seu caráter visionário, já teriam entrado para a história com grandes obras, adiantados numa bela vanguarda governista. Mas, voltando aqui para nossa conversa, sinta-se feliz em ver tantas obras juntas no seu caminho e ofereça sua parcela de sacrifício para a transformação da cidade. Se você sobreviver a todas elas, obviamente.
Christiane Batista é bacharel em Direito e acadêmica de Letras na UFMT. chris@osuperperu.com.br
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