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Opinião
Quinta - 14 de Janeiro de 2010 às 10:44
Por: Waldir Serafim

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Há poucos dias escrevi um artigo sobre a mentira, usada como instrumento de política governamental e, pela reação indignada manifestada por parte de algumas pessoas do meu relacionamento, constatei, como já desconfiava, que hoje não se pode falar nada sobre o Presidente Lula. No alto de sua grande popularidade, virou um ícone. A qualquer crítica, mesmo que fundada, já se recebe a pecha de direitista, de estar contra o governo popular, e outros insultos impublicáveis. Criticar o governo Lula, hoje, é o mesmo que vender a alma ao diabo: já se está condenado.

O Brasil perdeu o gosto pela crítica construtiva, pelo debate racional, pela polêmica não ideológica. O brasileiro é movido pela paixão: ou se é a favor, ou se é contra. Não tem meio termo. Tudo é ideologia. Quando alguém critica é para destruir. O que não foi a minha intenção.

Da eleição passada restou claro, por um lado, a enorme identidade do Lula, “o filho do Brasil”, com o povão e, por outro, o medo dos políticos de se posicionarem contra a corrente popular. Foi uma campanha sem oposição. Todos queriam ser Lula. Até mesmo os candidatos de oposição, que subiam nos palanques quase que pedindo desculpas por estarem do outro lado. Ninguém ousou mostrar que nem tudo são flores; que embora existam acertos, também existem erros. Que cabe sim a discussão de um projeto alternativo de governo.

Nas próximas eleições, parece que vai ser a mesma coisa. Nenhum candidato se apresenta como oposição. Criou-se um neologismo: “pós-Lula” . Com medo de perder votos, ninguém ousa criticar o governo. Todos aprovam a priori o governo e tentam convencer o eleitor com um programa para o pós-governo, de continuidade. É uma situação, no mínimo, singular. Tanto os partidos de oposição quanto os de situação estão querendo ser a continuidade do governo que aí está. Aquela frase tão falada em tempos atrás, “sou contra tudo que está aí”, virou, “sou a favor de tudo o que está aí”.

A covardia da oposição pode levar a população ao seguinte raciocínio: se é para mudar para continuar tudo como está, porque não continuar com Lula, e votar na Dilma? E aí teremos mais do mesmo: um governo voltado para as próximas eleições (Dilma trabalhando para reeleger Lula em 2014).

Este modelo de política de curto prazo tende a um esgotamento. Por falta de uma visão de longo prazo, corremos o risco de perder o ônibus da história. O Brasil, ao contrário da propaganda oficial, não está preparado para crescer. Falta investimento em infra-estrutura: nossos portos, aeroportos, rodovias e a disponibilidade de energia elétrica estão no limite.

Segundo informações do próprio governo, apenas 32,9% das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), principal peça de investimento e propaganda do governo, foram executadas até o momento, contando com os investimentos do setor privado.

Levantamento feito pela ONG Contas Abertas, em relatórios do governo, demonstra uma realidade ainda pior. Mostra que, das 12.520 obras e ações previstas no programa, apenas 1.229, ou 9,8% do total, estão concluídas. Mostra também que 7.715 projetos, ou 61,6% do total, sequer saíram do papel (nos relatórios do governo aparecem como: em “contratação”, em “ação preparatória” – estão em estudo ou em fase de licenciamento- ou em “licitação” – etapa que inclui da preparação do edital de licitação até a contratação da obra). Constam ainda, 3.576 obras  (26,8% do total) como “em andamento”.

Jogos de palavras à parte, o fato é que se o governo quiser alcançar 50% do que foi programado, deverá executar em 2010 muito mais do que fez em três anos. Pelo andar da carruagem, resultado impossível de ser alcançado pela falta competência gerencial demonstrada até agora.

A ONG Contas Abertas alerta que o problema é ainda mais grave: o atual governo não está pagando a totalidade das obras executadas. Desde o início do programa o governo pagou pouco mais de R$ 36,6 bilhões e, no entanto estão empenhados e não pagos, outros R$ 24,3 bilhões, o que está gerando um enorme “restos a pagar”, que deverá ficar como herança para o próximo governo. 

Esperemos, pois pelo “pós-Lula”. Esperemos por um governo que tenha mais gestão e menos propaganda. Mais ações e menos discursos. Que tenha uma visão de longo prazo, para além das próximas eleições. Que esteja disposto a tomar as medidas necessárias, ainda que impopulares. Que governe pensando nas próximas gerações, como os verdadeiros estadistas.

Waldir Serafim é economista e professor universitário.



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