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Opinião
Quinta - 05 de Junho de 2014 às 10:46
Por: Roberto Boaventura

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De todos os temas que me interessam, o ensino é um dos mais caros para mim. “Caros”, aqui, no sentido de valioso, não no de dispendioso. Este sentido fica aos cofres públicos que sustentam grupos empresarias privados da educação.

Sobre isso, sugiro a leitura da matéria – “Mercado nota 10” – assinada por Samantha Maia e publicada pela Revista Carta Capital (RCC), de 14/05/2014. Detalhe: a RCC é de tendência governista; portanto, é insuspeita no que diz.

A essência da matéria fica explícita já em sua abertura: “As instituições privadas do ensino superior, impulsionadas por programas públicos de incentivo dirigidos principalmente a alunos de baixa renda, faturaram 32 bilhões de reais no ano passado e atraem cada vez mais investidores do Brasil e do exterior...”

Os tais “programas públicos de incentivo” são o ProUni – criado em 2005 – e o Fies, financiamento “aperfeiçoado” a partir de 2010. Essa dobradinha financeira é a abundante teta governamental que os empresários da educação encontraram para mamar; e como mamam gostoso! "Essa dobradinha financeira é a abundante teta governamental que os empresários da educação encontraram para mamar; e como mamam gostoso! "

A prova disso vem das palavras de um líder empresarial, como registra a matéria jornalística citada: “Segundo Antoninho Trevisan, presidente da Trevisan Escola de Negócios, os programas derrubaram uma inadimplência que chegava a 30% no setor. ‘O ProUNI e o Fies salvaram as instituições privadas de uma quebradeira generalizada”.

Esses programas, como já sabíamos, salvaram as universidades “privadas de uma quebradeira” e – não duvidem – vão angariar votos nas próximas eleições, mas não ajudarão no resgate da qualidade do ensino.

É dinheiro público no lixo; afinal, a grande aposta do setor é a “maximização dos lucros”, expandindo cursos não-presenciais, reduzindo o quadro de professores e o valor da hora aula.

Por sua vez, o MEC, até para atenuar as críticas, descredenciou algumas aberrações do setor. Duas são do Rio. Resultado: alunos “abandonados”. Quase houve uma comoção nacional por conta disso.

Pois bem. Ainda que tudo esteja sendo feito dentro das leis, já elaboradas para sustentar tais situações, o dinheiro público injetado nas contas bancárias de grupos empresariais privados de educação é um golpe aos cofres públicos. Golpe que se torna mais perverso à medida que um potencial volume de calotes já se prenuncia a olho nu e aos ouvidos que não se fazem de moucos.

Quem quiser entender isso na prática, converse com alunos de tais instituições; pode ser de qualquer curso. Mas se preparem: vão se assustar com o baixo nível. Dias atrás, pus-me a dialogar com três estudantes de Comunicação (Jornalismo) de uma privada local. Cada frase que eu ouvia era um susto.

Todos eles – ou filhos do Fies ou do ProUni – já estão no terceiro ano. Falta pouco para a nova fornada de jornalistas mal formados. O desempenho da língua portuguesa daqueles acadêmicos é de provocar piedade. Não consigo ver nenhuma redação empregando-os como jornalistas; quiçá, como jornaleiros. Afinal, para a entrega de jornais ainda não é exigido um curso superior.

O que isso significa num futuro breve?

Calote no financiamento público.

Por desonestidade?

Sim, mas não primeiramente dos acadêmicos medíocres que, no limite, compactuam com a situação. A força da desonestidade fica por conta do governo federal que injeta recursos públicos em empresas privadas desqualificadas. Elas não têm compromisso com a árdua construção do saber.

Portanto, é assim que se passa de golpes aos calotes. E de golpes e calotes estamos a construir o futuro de nossa nação.

Pobre porvir!

Pobre nação! 



Autor

Roberto Boaventura

ROBERTO BOAVENTURA  é doutor em jornalismo e professor de Literatura da  UFMT

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