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Opinião
Segunda - 13 de Junho de 2016 às 09:44
Por: Adriana Vandoni

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Há uns dez anos ou mais, um amigo improvável pela personalidade tão diferente da minha, e aparentemente do lado oposto da política que pouca gente acreditaria podermos ser amigos, enviou-me um texto que havia escrito. Conversávamos muito sobre o Estado e o governo, mas nunca havia escrito um texto e me enviado. Ele há pouco tempo havia trocado a iniciativa privada pela pública. O texto falava que o Brasil era o país da regra errada.

Na época achei que estivesse falando genericamente da situação brasileira. Hoje, um ano e meio depois de fazer o mesmo caminho desse meu amigo improvável, e relendo seu texto, consigo sentir que mais que a situação brasileira, suas palavras transmitiram toda a angústia que sentia. Mesmo sentimento em Rui Barbosa quando citou “triunfo das nulidades”, ou Nelson Rodrigues quando previu a ascensão espantosa e fulminante dos idiotas. Alguns com dinheiro, muito dinheiro, mas idiotas da mesma forma.

Somos um país estranho.

Vejo padrões tentando ser mudados, e, da minha janela, literalmente, beócios sofistas os criticando. Vejo iniciativas sensacionais, enquanto oportunistas as criticam e criam factóides apenas pelas manchetes que possam lhes atrair possíveis eleitores. Será o seu legado para a nossa sociedade: as manchetes. Vejo tanta coisa que chego a me entalar e questionar se vale a pena tentar mudar algo ou se um simples “às favas” não resolveria. Não deveria escrever “às favas” como secretária de Estado? “Às favas” com isso. Não vivo pela procura de votos, poder ou manchetes.

Desde muito cedo a administração pública me cativou, tanto que saí de Mato Grosso e fui me especializar numa das mais respeitadas faculdades do país. Um período sacrificado em que deixava duas crianças aqui para estudar fora. Sempre contando com o apoio incondicional de meu marido que, mais que apoio, me incentivava a ir. Não à toa estamos juntos há mais de 30 anos, numa relação sólida e parceira. E nesse ambiente de conceitos sólidos e princípios rígidos criamos nossos filhos. Dando exemplos.

O amor pela administração pública veio de criança. Diz meu marido que Freud me explica, e que encarno o pensamento “Edipiano”: amor e admiração pelo pai. Talvez possa ser mesmo. Meu pai dedicou sua vida toda ao público. Segundo Wilson Santos (que além de deputado é conhecedor da nossa história), meu pai e Marcelo Padeiro foram as pessoas que mais vezes ocuparam cargo de secretário. Fez muito por este Estado. E pela sua família, além de ter despertado em nós a paixão por fazer pelos outros, ensinou e provou que é possível fazer com honestidade. Tenho muito orgulho de carregar nas veias o seu sangue, na profissão a mesma paixão, e em meus documentos o seu sobrenome.

Mas, voltando à regra errada, sim, o Brasil é o país da regra errada, mas nem todos são oportunistas que se dispõem a seguir a vida tirando proveito desses erros, nem todos estão dispostos a achar normal ver o rabo balançando o cachorro.

Nem todos compactuam com as insanidades. Há os que têm profundo desprezo pelas nulidades morais e querem executar um trabalho digno. Nesses que temos que nos espelhar, é por esses que temos que trabalhar, porque a vida só vale quando se faz algo transformador e perene. Mesmo que isso possa parecer insano, e, parodiando Drummond, mesmo que existam pedras em nosso caminho.



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