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Opinião
Terça - 17 de Dezembro de 2019 às 13:13
Por: Onofre Ribeiro

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Meu pai morreu aos 90 anos em 2010. Sempre tivemos longas e boas conversas. A sua simplicidade técnica não o impedia de enxergar o mundo numa visão claríssima e, acreditem, frequentemente profética. Nossas discordâncias eram poucas. Pelo fato de morar em Cuiabá e ele em Brasília, quando nos víamos alongávamos as nossas conversas. Gostava de ouvi-lo teorizar sobre temas complexos, na sua visão simplista mas certeira. Hoje chamaria aquela visão de sabedoria.

Numa dessas suas teorizações ele disse-me: entre 1920 em que nasceu e 2010 o mundo andou um milhão de anos. O que havia em 1920 era muito simples. Metalurgia básica na forma de ferramentas como enxada, foice, machado, serrote, etc. Já em 2010 ele se entusiasmava com o controle remoto da televisão que tomava a maior parte do seu tempo diário. Achava o computador e o celular absolutamente fantásticos. Em 15 de agosto de 2010 ele partiu levado por um câncer traiçoeiro. Pensava que os dois eram invenções dos extraterrestres que nos deram como presente, ou em troca de minérios raros. Deixou um grande vazio com as suas teorizações proféticas.

Parece só um jogo de palavras, mas estamos falando da virada de um mundo pra outro. Na esteira dessas transformações perdem-se as religiões, os dogmas, as teorias científicas na sua maioria, a política, os conceitos de política, de economia, de Estado e de sociedade

Lá se vão quase dez anos. E o mundo gira cada vez mais rápido nas suas transformações. O pior é que muita gente que deveria se importar ainda se comporta como meu pai em 1920. Os sistemas tecnológicos, vindos ou não dos ETs em que ele acreditava. Desde que ele se foi apareceram a inteligência artificial, o big data, a indústria 4G, o whatsapp e o facebook. Os ETs já não são mais tabu como eram em 2010. Espera-se, como ele previa, o contato a qualquer momento. As gerações novas que ele tanto admirava estão realmente avançando confusas nesse mundo em transformações aceleradas.

O choque do conceito é muito duro: não estamos numa época de mudanças. Estamos numa mudança de época. Parece só um jogo de palavras, mas estamos falando da virada de um mundo pra outro. Na esteira dessas transformações perdem-se as religiões, os dogmas, as teorias científicas na sua maioria, a política, os conceitos de política, de economia, de Estado e de sociedade.

Imagine-se a educação nova frente à internet 5G, uma rede em tempo mais do que real. Celulares e eletrônicos diversos capazes de navegar na impossibilidade das mentes mais desavisadas de hoje.

O leitor deve estar perguntando o porquê deste artigo. Responderia que é o seu objetivo é mera provocação pra alertar que todas as mudanças de época ao longo da História varreram ideias velhas e gente agarrada a elas. Fórmula pra adaptações: nenhuma! É a construção do dia a dia. Cada nova ideia joga-se outra fora. Se entre 1920 e 2010 correram 1 milhão de anos, imagine-se nos próximos 10 anos?

ONOFRE RIBEIRO é jornalista em Mato Grosso.



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