Histéricas Haverá sempre um adjetivo pejorativo para qualificar nossas ações

Loucas, malucas, piradas, histéricas. Sua amiga termina um relacionamento e lá está o ex-namorado dela a chamando de louca. Sua prima separa do marido e lá está seu ex-marido a tachando de maluca. Sua tia foi traída, rompe a relação e lá está o “coitadinho” dizendo que ela é pirada.

Não importa o que aconteça, somos as histéricas. Se nos revoltamos, somos doidas; se eles se revoltam, é do instinto deles. Temos que ser comportadas, caladas, sentar direito, falar baixo, não responder, sorrir fingindo estar tudo bem. Do contrário? Maníacas.

Ele olhou meu celular: vixi, está desconfiado de alguma coisa; ela olhou meu celular: possessiva. Um “nudes” dele vazou na internet: kkkkk; um “nudes” dela vazou na internet: puta. Ele estava com ciúme do seu amigo porque te ama, que fofo; ela estava com ciúme da sua amiga porque é uma desequilibrada, insegura.

Alguma coisa nós somos. Na visão de um homem machista vamos sempre ser

Rebecca Solnit, em seu livro “Os homens explicam tudo para mim”, nos conta que a palavra “histeria” vem da palavra grega “útero”, onde pensava-se ser uma doença causada por um útero deslocado, ou seja, os homens estavam isentos dessa condição. No final do século XIX, as mulheres eram cotidianamente diagnosticadas como histéricas.

Se hoje ainda somos histéricas por não aguentarmos caladas situações machistas, imagina no século XIX? Tinha era que ficar bem quietinha aguentando opinião sobre seu jeito de vestir, de falar, de dançar, de comer, de viver.

Feminista? É uma insana. Onde já se viu querer direitos, uma mulher, ponha-se no seu lugar. Gritar nas ruas pedindo respeito? Que piada, agora a gente não pode nem mais cantar mulher por aí. É que antes também não podia, sabe, mas agora temos coragem. Coragem para dizer: não vai me assediar, não vai passar a mão em mim, não vai fazer “psiu”, não vai assobiar.

Está me olhando por quê? Perdeu alguma coisa, me conhece? Para sua filha não quer que ninguém olhe. Mas, para a filha dos outros é bom olhar, né? E então, quando achamos ruim olhares maliciosos: exagerada.

Alguma coisa nós somos. Na visão de um homem machista vamos sempre ser. Seremos as histéricas e a ex louca; eles serão as vítimas e os que fizeram tudo isso com você porque te amava demais.

Mas, agora nós somos sim. Mulheres que não deixam mais passar nenhuma situação de assédio, e se isso para você é ser histérica, doida, maluca, pirada. Prazer, biruta.

Michelle Leite de Barros é advogada em Cuiabá