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Opinião
Quinta - 14 de Outubro de 2021 às 06:30
Por: Lourembergue Alves

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Políticos se movimentam. Ainda que sem rumo, mas se movimentam. Vão de um lado para outro. Conversam, fazem conjecturas, confabulam e fazem planos.

Planos pessoais, grupais, sempre voltados para as eleições de 2022. Eleições que são, como todas as anteriores e as futuras, elixir, causadoras de suas motivações. Motivam-se por causa dos cargos em disputas.

Em razão dessas disputas, há até casamentos. Casam-se, ainda que venham a se descasar, e descasam com os olhos vidrados em outro consórcio, mesmo que sejam incompatíveis.

Casamentos com comunhão universal de bens. Ainda que haja quem discorde dele, quem se recusa a assinar o termo do casório. Isto pouco, ou quase nada importa. Importante mesmo é o tamanho do dote.

O dote faz com que os nubentes se mostram muito apaixonados, nascidos um para o outro. Inseparáveis, embora ocorram traições. Traições consentidas.

Políticos se movimentam. Ainda que sem rumo, mas se movimentam. Vão de um lado para outro. Conversam, fazem conjecturas

Ou, há casos, talvez mais frequentes, em que também podem ocorrer que o passado para trás não venha a se incomodar em ser traído. O feito, neste caso, torna-se não feito.

Assim, continuam de mãos dadas, alinhados. Prevalece, então, o amor. Amor incondicional. Como prova de amor um pelo outro, os dois deixam de ser o que eram para ser um só, um único corpo.

Foi o que se viu na formação da União Brasil. Assim que o TSE consagrar a tal fusão, o PSL e o DEM desaparecem de vez. Embora, lá na frente, os descontentes de ambos possam a vir ressuscitar uma das siglas, ou as duas. O jogo político-partidário é assim mesmo. O improvável acontece, assim como também se registra o incompatível. A consanguinidade pouco, ou coisa alguma pesa nas alianças, nas filiações. Filiados de direita podem estar nas fileiras de esquerda, e os de esquerda podem se fizer presentes nas da direita.

Direita e esquerda são termos que não influenciam quase nada no ato da filiação. Filia-se com vistas às oportunidades, aos espaços possibilitados. Interesse particular ou grupal sobrepõe-se.

Sobrepõe-se tanto que até o momento, um pouco menos de um ano das eleições do ano vindouro, só se fala em nomes, jamais em programas ou projetos de governo, ainda que a inflação esteja em disparada, sem freios, e os preços sobem desmedidamente. “Tudo está aos olhos da cara”, como dizem.

Nada, nadinha de nada se vê ou se lê a respeito de um plano de ações para estimular a economia, a saúde financeira do país. Muito embora haja, e há mesmo unidade da federação bem das pernas, com dinheiro em caixa. Mas a imensa maioria da sua população continua pobre, paupérrima, sem seus direitos básicos, a exemplo da saúde. Inclusive desamparada de política pública.

No lugar das políticas públicas, existem assistencialismos, com sacolão de alimentos daqui e dali, cobertor para um e para outro. Entregas que se dão de forma barulhenta, com toda a pompa, para que fiquem registrados na memória e no inconsciente coletivo, afinal, os doadores são gentes que gostam de gentes. Têm bons corações. Repartiram com quem precisam. No dia de votar, a fatura chega supervalorizada: votos no bornal de quem lhes deram migalhas.

Migalhas necessárias e importantes para os momentos de desespero.

Migalhas que poderiam ser substituídas por políticas públicas. Mas estas há muito, estão fora de cogitação. Talvez, quem sabe, por não aceitarem a personalização, nem a pessoalização.

O que é bastante grave, uma vez que a dita situação perdura, e, ao perdurar-se, afasta de vez o combate da desigualdade social, que tende a se agravar com milhões e milhões de pessoas presas abaixo da linha da pobreza, e outras tantas encalacrados no endividamento impagável pelo não crescimento do emprego e pela ausência de uma política econômica no país, com os políticos e partidos preocupados tão somente com os cargos em disputas. É isto.

Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.



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