Cambalacho
Perguntaram-me se o Prefeito afastado de Cuiabá volta ao cargo, após o seu afastamento pela Justiça. Um jornalista de destaque afirma que depende do tamanho dos cheques dos vereadores. Por outro lado, o Poder Judiciário se encarrega, pela morosidade e por outras razões insondáveis, de fazer com que as coisas mudem para ficar como estão, como no livro o Leopardo de Geusepi Tomásio de Lampedusa. Um ex-presidente condenado e preso retornou sem máculas, jurando ser inocente. Os condenados da Operação Lava Jato volveram à ribalta para continuarem com as mesmas práticas. Os Conselheiros do TCE, acusados de delitos graves também voltaram e por ai vai a insólita carruagem para a qual os cães sequer ladram. Então, por que o Prefeito não voltará! Se isto não acontecer não se fará jus a tradição. Neste Continente do realismo fantástico tudo gira em círculos e se repete indefinidamente, como descreve Garcia Marques, no Livro Cem Anos de Solidão.
Neste Brasil de meu Deus, tudo é perdoado, tudo é esquecido. Enfim, por aqui, como na música: não existe pecado do lado de baixo do Equador. Todos são santos e demônios ao mesmo tempo. Reclamam-se das autoridades e de seus desmandos, mas quando se transformam em uma delas procedem da mesma forma. “É tudo banana/Oh, eu acho que é do mesmo cacho/ É tudo farinha e eu acho que é do mesmo saco... E a gente vai levado meu amor no cambalacho/Cambalacho!” (Música Cambalacho de Walter Queiroz). Neste ambiente, tudo pode ser feito e tudo pode ser desfeito. As obras podem ser construídas/abandonadas e as decisões tomadas, mas, lá na frente, serão esquartejadas.
O arco-íris político e adjacências se digladiam para, no fim, entregar a administração ao fisiologismo. Sempre foi assim e parece que continuará sê-lo. Enfim, sobe Chico ou Francisco, mas o triunfo é sempre das inefáveis conveniências que acabam prevalecendo. Os nossos fisiologistas são insuperáveis!
Neste cenário, ainda acredita-se que o País tem jeito. Será que tem? Eu me nego a acreditar, pois contra fatos não há argumentos. Como não há bem que sempre dure e nem mal que nunca acabe, um dia virá certamente a luz que acabará com a escuridão. Por enquanto, prevalecem ainda, as cruentas e lastimáveis afirmações da música Cambalacho/Barganha interpretada pela voz imortal de Carlos Gardel, na década de 30 do Século XX:
Hoje resulta que é o mesmo ser direito ou um traidor
Ignorante, sábio, ladrão, generoso, vigarista
Tudo é igual, nada é melhor
É o mesmo um burro ou um grande professor!
Não há carreiras nem mérito
Os imorais se igualaram a nós
Se alguém vive em impostura
E outro rouba com ambição
Dá no mesmo, seja padre
Costa larga, rei dos cassinos
Cara de pau ou um clandestino....
Que falta de respeito, que afronta a razão!
Qualquer um é um cavalheiro, qualquer um é um ladrão!
........quem não chora não mama e quem não rouba é um idiota…"Dá-le no más, da-le que vai" (vai, rouba que não dá nada)....”.
Renato Gomes Nery. E mail – rgnery@terra.com.br Site – renatogomesnery.com
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