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Opinião
Terça - 29 de Março de 2022 às 09:46
Por: Pedro Felix

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Na época da escravidão brasileira, havia em nosso país uma modalidade de prostituição bem explicita envolvendo mulheres negras escravas. Eram chamadas de negras de aluguel e entre seus serviços estavam o do oferecimento da genitália.

Serviam a seus senhores de forma sexual, realizando sexo com clientes em prostíbulos de propriedades de brancos, que usavam o corpo das negras para aumentar suas riquezas.

Hoje receberiam o nome de cafetão, mas a sociedade extremamente cristã da época explorava estes seres humanos, considerados como máquinas.

Em Cuiabá a profissão dita irregular, que existe desde os tempos imemoriais eram realizadas em lugares marcantes e que ficaram na história da cidade.

O mais antigo prostibulo conhecido por muitos, ficava na Prainha (Avenida Cel. Duarte), do lado do morro da luz, onde hoje estão dois pontos de ônibus a direita no sentido centro CPA, ou rumo ao Coxipó. Mais precisamente nas mediações da igreja do Rosário.

Quem é antigo em Cuiabá já ouviu muitas lendas sobre este lugar que era chamado de “Palácio das águias’. Local muito “respeitado” por garimpeiros que trocava seu ouro por “momentos de prazer” com as senhoras/senhoritas do lugar, verdadeiras águias de rapinas segundo a representação que o lugar adquiriu. Nosso bordel ou primeiro “bataclan” cuiabano.

Na época da escravidão brasileira, havia as chamadas negras de aluguel

A cidade cresceu e atrás da igreja do Rosário, mais especificadamente na Rua Corumbá, desenvolveu-se ali uma série de barzinhos disfarçados onde muitas mulheres “da vida” tiravam seus sustentos na atividade corporal da prostituição.

No final desta rua alguns destes barzinhos tinham seus nomes ligados as proprietárias. Exemplos não faltavam e um ficou bastante conhecido, o “bar da Lurdinha”. Do início desta rua até o tanque do baú existiam estes pequenos prostíbulos, que na frente eram disfarçados de bar e nos fundos quartos de aluguéis momentâneos.

Saindo do centro da cidade vamos para a região do Porto. De modo geral, o porto, local de atracamento de todo tipo de embarcações, sempre foi conhecido como lugar de muitas atrações e pontos comerciais.

Quem já viajou por cidades litorâneas ou fluviais, já perceberam que o porto é um local de forte atração à prostituição. Em muitas cidades brasileiras revitalizaram estes espaços atraindo turistas com lojinhas de conveniências entre outras atrações.

Hoje, o nosso bairro do Porto que já foi o segundo maior bairro de Cuiabá, insiste em manter parte da sua parcela fronteira ao Rio Cuiabá, de forma marginal e prostituída.

Na região entre a Praça Luís de Albuquerque, o Museu do Rio e a feira municipal, congrega ainda vários barzinhos disfarçados, com a frequência de mulheres e homens alienados pelas drogas (álcool e principalmente a química-crack), além de vários na modalidade “sem tetos”.

Nas décadas de 60 a 80 do século XX um bordel ficou bastante conhecido. Para se chegar lá bastava perguntar onde ficava a “Pedra branca”. Fisicamente a pedra insiste em ficar ali, simbolizando um período áureo desta atividade.

Grandes homens de negócios em Mato Grosso, donos de hotéis no centro da cidade, criaram empreendimentos disfarçados de boates, mas com predominância clara na prostituição, entre eles cita-se o “Bataclan”, localizado na região do bairro Coxipó. Este juntamente com o Balneário e o Sayonara atraíram também esta atividade furtiva.

O tempo passa, o tempo voa e a venda do corpo lânguido e com disfarçado vigor sexual, à espera do franco pagador ainda existe em qualquer lugar do mundo, seja aceito regularmente pela sociedade como o exemplo de Amsterdam na Holanda e sua famosa rua “Red Light”, seja na forma tecnológica de sites de GP (Garotas de Programas) aqui no Brasil, que driblam a lei e oferecem uma das coisas mais poderosas da humanidade, sexo.

Enquanto isso o código penal insiste em suas letras mortas a nos dizer que:

Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente: Pena – reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

Como diria o saudoso Chico Anísio em um de seus personagens, o Pantaleão: ... Não é verdade Terta?

Obs: Agradeço a Luiz Camilo Fernandes, colega de trabalho que durante conversas esparsas sobre a cidade, sempre me passa conhecimentos ontológicos, esquecidos, mas presente em quem nasceu nos meados do século XX e carrega na memória uma geografia que se desfez, e causos e coisas que fizeram desta cidade o centro da América do Sul com suas peculiaridades e maneira de ser única.

Pedro Felix é professor de História, escreve sobre coisas cuiabana.



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