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Opinião
Sábado - 09 de Julho de 2022 às 09:19
Por: Benedita Enildes Corrêa

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O mundo tal como o conhecemos envolve tensões, conflitos, dores das mais diversas, doenças e guerras. O mundo interno de um ser humano também pode conter um território hostil, gerador de doenças e guerras quando não é habitado, conhecido e compreendido adequadamente.

Desde a minha meninice, de vez em quando, tenho ouvido algumas pessoas dizerem que, se pudessem, iriam para bem longe do lugar onde viviam e dos problemas que as arrochavam.

E se os desafios chegam de modo mais avassalador, é quase inevitável desejar fazer uma travessia de mundos, não é? E que mundo é esse, onde queremos nos refugiar, do qual sentimos falta?

Certamente um lugar onde se semeie flores ao invés de espinhos – flores da amizade, do acolhimento, da comunhão, do respeito ao próximo, cuidado com a nossa casa comum; onde exista paz entre os humanos e em todos os reinos da criação.

Um lugar habitado por seres conscientes, amorosos e compassivos, em que a cooperação e o espírito de fraternidade entre as pessoas sejam realidade, sejam força presente e transformadora. Mas nem sempre é possível deixar o mundo que habitamos para trás e ir para um outro diferente do nosso num estalar de dedos.

E se carregarmos a mesma mente, os mesmos velhos padrões de comportamento, nenhum lugar será garantia de conseguirmos uma vida celebrativa. Porque afinal a capacidade de sermos celebrativos é uma qualidade inerente à natureza humana.

Todavia, é preciso compreensão sobre a vida, conexão com a nossa interioridade, com a pulsação da vida dentro do corpo para clicarmos na potência do fluxo da consciência, da plenitude e da celebração, que se manifesta no tempo sem tempo do aqui e agora. Nesse sentido, cada respiração consciente é um portal de luz.

Mais que ilumina, ressuscita! Basta fecharmos os olhos por alguns minutos, desconectar a mente do espaço exterior, sentir o corpo, experienciá-lo por dentro, respirar com atenção plena, e lá vamos nós para além deste mundo de pressões, tensões e preocupações.

No intervalo de tempo de uma, duas, três respirações com atenção plena conectamos com uma dimensão tecida de amor, pulsação e bênçãos, que nos oferece um eterno refúgio curador com bálsamos sagrados que se derramam sobre os maiores e mais profundos dissabores existenciais de qualquer ser humano.

Ocorre-me dizer que a terra prometida existe, mas é no mundo interno de cada pessoa. Para quem está disponível ao fluxo do viver, refúgios restauradores da força vital e do nosso espírito podem ser encontrados, tanto no espaço interno quanto externo, talvez como fruto da graça da Fada-madrinha e sua vara de condão cósmica, que transforma mundos no giro de um instante.

A presença de uma pessoa de fato amiga, que nos acolha simplesmente e compartilhe um pouco de si, é um desses abrigos existenciais.

Nos momentos de compartilhamento e comunhão, de novo a vida fica ao nosso alcance, os problemas diminuem de intensidade, respiramos melhor e as pressões internas se afrouxam.

Às vezes transpomos as fronteiras de um mundo de tensões e angústias ao nos envolvermos com motivação e totalidade em alguma atividade do dia a dia, por mais simples que esta seja.

Preparar uma refeição, limpar a casa, organizar um armário, ler um bom livro, caminhar no parque, observar a expressão e o sorriso de uma criança inocente, passear com o cão de estimação são algumas das infinitas possibilidades de interação e fruição com a vida em cada respiração consciente.

Sim, é possível atravessar mundos sem sequer nos deslocarmos do lugar onde habitamos. Estar disponível à vida é o segredo, acolher a grandeza da vida em si mesma, dentro e fora, em cada momento, seja de dor, seja de alegria. Nessa condição, belos e profundos aprendizados se fazem presentes e nos dão a chave do bem-viver.

Então, não importa muito o lugar onde se está e a situação que se vivencia, internamente haverá preenchimento e a vida será experienciada plenamente com seus variados ritmos, saberes, sabores, enfim, com todas as mudanças que fazem parte da natureza viva.

Benedita Enildes Corrêa é administradora, terapeuta corporal e professora de Yoga.



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