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Ouvir e Escutar
“É grande a quantidade de pessoas tidas como órfãs político-eleitoral do ex-governador Dante de Oliveira!” Frase de um mestrando em Ciência Política, que acabou de chegar a passeio à Capital do Estado. Sua surpresa, confessa, levou-o a indagar o porquê disto. Em busca de tal resposta, e mesmo fora do seu campo de estudos, passou a folhear jornais locais das décadas 1980 e 1990, enquanto ouvia um ou outro morador do Vale do Rio Cuiabá. O retorno ao Rio de Janeiro, porém, lhe impediu de prosseguir nessa investigação – bastante interessante. Não sem antes deixar a dita pergunta a esta coluna.
Provocação em boa hora. Não em razão das recentes comemorações ao “homem das Diretas-já”. Mas, isto sim, pela ausência de expressões políticas do Estado, com importância no cenário nacional. Os políticos existentes, infelizmente, estão longe disso. Até porque não se pode confundir ser dono de negócios com bagagem política vivida e vivenciada. É desta última que se fala aqui. Embora se saiba da pobreza, neste aspecto, notada tão logo se assiste a uma sessão no Parlamento municipal e estadual; assim como são “de morrer” as participações de representantes mato-grossenses em plenários do Congresso Nacional.
Quadro revelador. Mais ainda quando se percebe que os embates – os verdadeiros - são vencidos pelos esgrimistas. Aqueles que, em outras palavras, entendiam do jogo, e sabiam usar a retórica em prol das causas que defendiam. Dante de Oliveira era um destes. Não tinha uma bela voz, e às vezes até gritava quando deveria ser tão somente convincente, mas conhecia – como poucos – o percurso que deveria ser tomado. E fazia isso com precisão, quase como devoção. Aliás, é exatamente isso que se percebe em seus discursos proferidos na Assembléia Legislativa. Foi um deputado estadual que sempre esteve ao lado daqueles que estavam sendo excluídos pelo parigato imobiliário.
Posicionamento que contribuiu para o aparecimento de bairros, nos quais formaram gerações de votantes que tinham nele o “espelho” de político. Parte dessas gerações o acompanhou, mesmo nas derrotas para deputado federal e senador, e votava em quem ele indicava. Indicações nem sempre acertadas. Tanto que até hoje, nenhum desses indicados soube conquistar tamanho eleitorado.
Herança que político algum, nos últimos cinquenta anos, foi capaz de deixar. Tal como fizeram Vespasiano Barbosa Martins e Fernando Corrêa da Costa em outros tempos, lá pelas bandas do Sul – hoje Mato Grosso do Sul. Vespasiano e Fernando, em períodos distintos, valeram de seus consultórios médicos para constituírem seus fiéis eleitores. O Dante, ao contrário, se aproveitou do “gogo” e gastou bastante a “sola de sapato”, inclusive no enfrentamento com a polícia.
Daí as conquistas eleitorais. Deputado Federal foi à seguinte. Ocasião em que a maioria da população foi às ruas e praças pela eleição direta para presidente. Proposta que acabou sendo rejeitada. Porém, o seu autor passou a ser conhecido em todo o país. Certamente o único da terra com tamanha proeza. Proeza que se deve muito ao ouvir pessoas. Não apenas quem estava ao seu lado. Dante era muito de conversar, falar sobre o cenário e a política, e tirar o melhor de tudo que lhes diziam, uma vez que faltava a ele estudos sobre política, do mesmo modo que falta a todos os outros, inclusive quem apareceu depois dele, mas estes outros preferem tão somente ouvir o som da própria voz, quando muito as vozes de quem lhes devem o emprego ou favores.
Pois, bem, Dante gostava de escutar e ouvir as pessoas. Mesmo nos governos da Capital e do Estado. Perdeu duas eleições – um dos motivos – porque se restringiu ao bate-papo com quem estava a sua volta. Isto, entretanto, não tira os méritos: o de maior político do Estado nas últimas cinco décadas. Por isso, e muito mais, que ainda continua presente no imaginário da população, em especial a esparramada pelo Vale do Rio Cuiabá.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
Provocação em boa hora. Não em razão das recentes comemorações ao “homem das Diretas-já”. Mas, isto sim, pela ausência de expressões políticas do Estado, com importância no cenário nacional. Os políticos existentes, infelizmente, estão longe disso. Até porque não se pode confundir ser dono de negócios com bagagem política vivida e vivenciada. É desta última que se fala aqui. Embora se saiba da pobreza, neste aspecto, notada tão logo se assiste a uma sessão no Parlamento municipal e estadual; assim como são “de morrer” as participações de representantes mato-grossenses em plenários do Congresso Nacional.
Quadro revelador. Mais ainda quando se percebe que os embates – os verdadeiros - são vencidos pelos esgrimistas. Aqueles que, em outras palavras, entendiam do jogo, e sabiam usar a retórica em prol das causas que defendiam. Dante de Oliveira era um destes. Não tinha uma bela voz, e às vezes até gritava quando deveria ser tão somente convincente, mas conhecia – como poucos – o percurso que deveria ser tomado. E fazia isso com precisão, quase como devoção. Aliás, é exatamente isso que se percebe em seus discursos proferidos na Assembléia Legislativa. Foi um deputado estadual que sempre esteve ao lado daqueles que estavam sendo excluídos pelo parigato imobiliário.
Posicionamento que contribuiu para o aparecimento de bairros, nos quais formaram gerações de votantes que tinham nele o “espelho” de político. Parte dessas gerações o acompanhou, mesmo nas derrotas para deputado federal e senador, e votava em quem ele indicava. Indicações nem sempre acertadas. Tanto que até hoje, nenhum desses indicados soube conquistar tamanho eleitorado.
Herança que político algum, nos últimos cinquenta anos, foi capaz de deixar. Tal como fizeram Vespasiano Barbosa Martins e Fernando Corrêa da Costa em outros tempos, lá pelas bandas do Sul – hoje Mato Grosso do Sul. Vespasiano e Fernando, em períodos distintos, valeram de seus consultórios médicos para constituírem seus fiéis eleitores. O Dante, ao contrário, se aproveitou do “gogo” e gastou bastante a “sola de sapato”, inclusive no enfrentamento com a polícia.
Daí as conquistas eleitorais. Deputado Federal foi à seguinte. Ocasião em que a maioria da população foi às ruas e praças pela eleição direta para presidente. Proposta que acabou sendo rejeitada. Porém, o seu autor passou a ser conhecido em todo o país. Certamente o único da terra com tamanha proeza. Proeza que se deve muito ao ouvir pessoas. Não apenas quem estava ao seu lado. Dante era muito de conversar, falar sobre o cenário e a política, e tirar o melhor de tudo que lhes diziam, uma vez que faltava a ele estudos sobre política, do mesmo modo que falta a todos os outros, inclusive quem apareceu depois dele, mas estes outros preferem tão somente ouvir o som da própria voz, quando muito as vozes de quem lhes devem o emprego ou favores.
Pois, bem, Dante gostava de escutar e ouvir as pessoas. Mesmo nos governos da Capital e do Estado. Perdeu duas eleições – um dos motivos – porque se restringiu ao bate-papo com quem estava a sua volta. Isto, entretanto, não tira os méritos: o de maior político do Estado nas últimas cinco décadas. Por isso, e muito mais, que ainda continua presente no imaginário da população, em especial a esparramada pelo Vale do Rio Cuiabá.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/510/visualizar/
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