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Opinião
Quarta - 12 de Abril de 2023 às 04:43
Por: Tânia Regina de Matos

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Conheci Jorge Bastos Moreno através da série “O Repórter do Poder”, exibida pela Globoplay que retrata a vida do ilustre cuiabano.

Nascido em 23 de abril de 1954, negro, filho de uma dona de casa e de uma taxista, conseguiu se formar em jornalismo na Universidade de Brasília, tornando-se um profissional de sucesso.

Mauricio Stycer, do Uol, se refere ao documentário como maçante e afirma só interessar aos amigos. Ouso discordar do escritor, pois, jamais tive laços com Moreno e após conhecer sua história posso afirmar que a série interessa a todo ser humano que respeita as opiniões de outras pessoas, principalmente no atual momento, onde seguimos polarizados.

Moreno se notabilizou em Brasília por ter excelente trânsito entre políticos, dentre os quais: Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, além de habilidade de reunir tribos diferentes, portanto, só por esta característica já vale à pena assistir aos quatro capítulos.


Foi na redação do Jornal de Brasília que Moreno deu seu primeiro grande furo de reportagem, em 1978: a indicação do general João Figueiredo para ser o sucessor do presidente Ernesto Geisel.

A manchete: "Fantasma de PC pagou carro de Collor" também é de sua autoria e levou ao impeachment do ex-presidente em 1992. Ganhou o Prêmio Esso de Informação Econômica, o maior da categoria, sem entender nada do tema apenas porque recebeu informação de um político.

Há quem critique o jornalismo brasileiro e suas práticas antiéticas usando o jornalista como exemplo, rotulando-o de folclórico, fútil e especializado em bajular poderosos, entretanto, há quem diga exatamente o contrário, pois, Moreno deixava as personalidades influentes bem à vontade em sua casa, onde as recebia sem cerimônias, apenas oferecendo iguarias regionais como um legítimo cuiabano.

Mônica Bergamo disse que ele não sacrificava uma notícia pela crença que a fonte era amiga ou não. Contudo o próprio jornalista em entrevista falou que um dos segredos das boas relações que mantinha era o respeito à privacidade dos seus amigos, ou seja, não revelava todas as informações a que tinha acesso.

Fernando Henrique Cardoso elogiou Moreno, por sua ironia na escrita, por não falar muito e captar as coisas no ar. FHC chegou a dizer que “ele era uma peça do jogo político.” Uma notícia do Moreno em 140 toques mexia com a política nacional e foi assim que acabou publicando um livro com as notícias sobre o impeachment de Dilma divulgadas através de twitter.

De acordo com Euler de França Belém, Moreno cultivava a todos, os que estavam no poder e os que haviam deixado o poder. Às vezes, os que estavam fora do poder forneciam informações de melhor qualidade.

Segundo Paulo Freire, a palavra, mais que instrumento, é a origem da comunicação. O diálogo é um ato de amor, não há diálogo se não há humildade, se não há um profundo amor ao mundo e aos homens.

Moreno morreu aos 63 anos, no Rio de Janeiro, no dia 14 de junho de 2017, e aqui, onde foi enterrado, não recebeu homenagens como no Rio e Brasília. Ninguém pode negar que Moreno era hospitaleiro, empático e lia a alma humana, um autêntico cuiabano.

Tânia Regina de Matos é defensora pública de segunda instância.



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