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Opinião
Quarta - 13 de Julho de 2011 às 14:59
Por: Gilberto Natalini

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O mundo tem acompanhado de perto a movimentação em torno da energia nuclear, um assunto que provoca muitos debates devido a suas controvérsias. Novas políticas sobre o tema têm sido intensamente discutidas desde o terremoto que devastou o Japão e obrigou as autoridades nacionais a executarem tarefas que, embora corretas, causaram três explosões nos reatores e levaram ao vazamento de radiação.

A chanceler alemã Angela Merkel, por exemplo, assumiu o compromisso de desativar as 17 usinas nucleares em atividade no país até 2022. Já o país vizinho, a França, anunciou para os próximos anos a construção de novos reatores nucleares com tecnologias avançadas. Afinal, quase 80% da energia francesa vem de usinas nucleares e, devido à grande produção, o país é o maior exportador de energia elétrica da Europa.

Independentemente da postura em relação à energia nuclear, os dois países mantêm programas eficientes para a gestão dos resíduos radioativos produzidos, esses sim muito perigosos para a saúde do planeta. A França, por exemplo, tem uma política de reprocessamento de lixo nuclear que permite o reaproveitamento do material, que antes seria armazenado até que a radiação decaísse a níveis inofensivos.

O Brasil ainda não tem uma política bem definida de manejo de material nuclear. Os dejetos das usinas nucleares de alta atividade de Angra 1 e 2, no Rio de Janeiro, são armazenados na própria central nuclear. O material radioativo que causou o grave acidente nuclear em Goiânia, no final dos anos 80, está enterrado a trinta metros da superfície, em uma câmara com paredes de um metro de espessura, no subsolo do Parque Estadual Telma Ortega. Percebe-se que há uma atenção especial aos resíduos de alta atividade, que são casos excepcionais.

Os resíduos de média e baixa atividade, contudo, são um grande problema. A Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) não tem depósitos suficientes para armazenar todo esse material, que, embora em menor escala, também representa perigo para a vida.

Um exemplo claro da ausência de organização no setor é o silêncio da Cnen em relação ao caso da usina de Interlagos da Nuclemon. Após a vistoria da Comissão do Meio Ambiente da Câmara Municipal, um laudo foi confeccionado com o apoio de todos os envolvidos na questão, que esclareceram a situação e permitiram um dimensionamento preciso do problema. A Cnen, contudo, manifestou-se tardiamente e de maneira superficial quanto ao destino adequado para as 80 toneladas de material radioativo armazenadas em Santo Amaro, um dos bairros mais populosos e importantes de São Paulo.

A comissão de Meio Ambiente da câmara municipal já definiu que um dos seus desafios em 2011 é retirar do coração de São Paulo, no bairro de Santo Amaro, os 80 toneladas de lixo radioativo que preocupam os especialistas e causam grande aflição nos moradores daquela região. E o governo federal deve atuar como parceiro nessa tarefa. Se bem administrada, a energia nuclear é eficiente, barata e limpa. Contudo, o dano ambiental causado por uma política ineficiente de manejo de lixo nuclear é gravíssimo. É hora de encarar o desafio e propor um programa concreto, que dê conta de todo o resíduo nuclear produzido no país e permita um avanço saudável e responsável dessas tecnologias.
 
Gilberto Natalini é vereador e presidente da Comissão de Meio Ambiente da câmara municipal de São Paulo.



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